segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Na mira de cibercriminosos, Apple enfrenta 200 mil ataques diários e invasão a site

ANDERSON LEONARDO
Daniela Arrais, 30, abriu seu e-mail no último dia 20 e encontrou uma mensagem automática supostamente enviada pela Apple pedindo para ela confirmar os dados de sua conta dentro de 24 horas, pois seu acesso aos serviços da empresa estava "temporariamente congelado".
Preocupada com o prazo, a empresária clicou no link indicado e foi levada a um site quase idêntico ao da Apple, que apresentava campos nos quais ela devia inserir informações pessoais, como endereço, número de telefone e cartão de crédito.
Arrais só desconfiou que aquilo poderia ser uma armadilha quando percebeu que o site requisitava também a senha de sua conta. Perguntou para um amigo sobre a credibilidade da mensagem e a enviou para a lixeira.
Por pouco ela não entregou informações confidenciais a cibercriminosos e se tornou uma vítima de phishing (tentativa de enganar usuários para obter seus dados, seja por e-mails ou sites falsos).
"A mensagem era parecida com as outras que recebo da Apple. Não era nada tosca", a empresária se recorda. "Se eles tivessem acesso ao meu endereço e às informações do meu cartão de crédito, eu entraria em pânico."
De acordo com uma pesquisa da empresa de segurança digital Kaspersky Lab, a média diária de ameaças de phishing voltadas a usuários da Apple disparou para 200 mil em 2012, sendo que no ano anterior apenas mil casos eram detectados a cada dia.
O estudo mostra ainda que esse número pode crescer em quase 500% quando a empresa anuncia alguma grande novidade. Em 6 de dezembro de 2012 --dois dias após a companhia expandir sua loja virtual iTunes Store para 50 países--, por exemplo, a Kaspersky Lab detectou 939,5 mil ocorrências desse tipo de fraude eletrônica.
Os criminosos também se aproveitam de brechas de segurança envolvendo a fabricante de iPhones e iPads para intensificar os ataques e tentar fisgar algum peixe assustado e desatento.
Foi o que aconteceu entre 18 e 26 de junho, período durante o qual o site de desenvolvedores da Apple foi tirado do ar pela empresa devido a uma invasão, que pode ter revelado dados de algumas pessoas cadastradas.
Após o incidente, usuários do Twitter começaram a reportar uma onda de mensagens e sites falsificados em busca de "alteração de senha" e "confirmação de informações pessoais".DIA DA CAÇA
Especialistas em segurança digital atribuem o aumento de ameaças virtuais que têm como alvo usuários da Apple à crescente popularidade dos aparelhos da companhia, em especial os dispositivos móveis.
"Esses produtos são objetos de desejo de muita gente", afirma Fabio Assolini, 33, analista de malware da Kaspersky Lab no Brasil. "Hoje é muito mais comum ver pessoas com iPhones do que antigamente, e isso chama a atenção dos criminosos."
No mês passado, a Apple confirmou essa tendência ao divulgar os resultados de seu terceiro trimestre fiscal, que vai de abril a junho.
Embora a venda de iPads tenha caído de 17 milhões para 14,6 milhões de unidades, a companhia bateu um recorde de smartphones vendidos durante o período, com 31,2 milhões de iPhones comercializados --um aumento de 20% em relação ao mesmo trimestre em 2012.
Segundo Assolini, o fato de os donos de iOS comprarem mais aplicativos que os de Android é outro atrativo para os criminosos.
"Desenvolvedores que trabalham tanto com o sistema operacional da Apple quanto com o do Google sabem que a primeira plataforma é mais lucrativa", diz.
Logo, no pensamento dos criminosos, existem mais chances de encontrar informações bancárias --com contas mais rechonchudas-- atreladas a uma Apple ID.
COM MALÍCIA
Ataques de phishing não são a única ameaça a donos de iPhones e iPads: softwares maliciosos também podem dar uma baita dor de cabeça.
Quando o assunto é segurança, "o comportamento do consumidor conta muito", afirma Nelson Barbosa, 33, especialista em segurança digital da Norton, da Symantec.
Ele se refere aos usuários que recorrem ao "jailbreak", um método que atropela restrições de dispositivos da Apple e libera a instalação de apps não autorizados por ela.
Para isso, o procedimento desabilita recursos de segurança do iOS, tornando-o mais vulnerável e abrindo portas para a raiz do sistema.
"O software de origem desconhecida que você baixa fora da loja oficial da Apple pode roubar seus dados bancários, gerar phishing para seus contatos e causar outros danos", afirma Barbosa.
As ameaças, no entanto, não se restringem a quem faz "jailbreak". Mesmo com a triagem realizada pela Apple para manter aplicativos maliciosos longe de seus usuários, é possível encontrar malwares na App Store.
No ano passado, por exemplo, a Apple aprovou a distribuição de um aplicativo russo chamado "Find and Call".
O programa acessava os contatos gravados no iPhone e, sem pedir permissão, disparava spam para todos os números de telefone e endereços de e-mail da lista. As mensagens eram enviadas no nome do dono do aparelho --o que dava a impressão de serem de origem confiável.
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia também descobriram, em junho, que era possível instalar softwares maliciosos em iPhones e iPads por meio do uso de carregadores falsos.
A Apple tomou conhecimento dessa vulnerabilidade e afirmou que ela será corrigida para todos os usuários na próxima atualização de seu sistema operacional.
Ao impedir que empresas desenvolvam antivírus para o iOS, "a Apple se compromete a proteger os usuários", diz Assolini. "No geral, ela tem feito isso bem, mas, como podemos perceber, há falhas."
Procurada pela Folha, a Apple não se pronunciou.
Folha..SNB

Episódio de espionagem não afetou relação entre usuário e Google, diz diretor brasileiro

Presença frequente nas apresentações de produtos do Google --foi o encarregado de apresentar ao mundo o tablet Nexus 7, por exemplo-- o mineiro Hugo Barra, 36, é um dos responsáveis por tornar o Android o sistema móvel mais popular do mundo.
Quando assumiu a diretoria de produtos, em 2010, o sistema tinha 50 milhões de usuários. Desde então, Barra chegou a vice-presidente, e o Android se aproxima de 1 bilhão de usuários.
De formação técnica, Barra, que veio ao Brasil para o evento Infotrends, não esconde a aversão a responder a questões sobre política e dinheiro na tecnologia.
"Oba, vai começar a entrevista", disse quando, depois de uma sequência de perguntas sobre o episódio da espionagem americana, ouviu uma sobre jogos.Folha - Os usuários depositam uma confiança grande no Google ao guardar dados nos servidores de vocês. Ela foi quebrada com o episódio da espionagem da NSA?
Hugo Barra - Acho que não. Nós temos plena consciência da relação de confiança que temos com todos os usuários de nossos serviços, e isso é a coisa mais valiosa que possuímos.
E é por isso, também, que deixamos bem claro durante todos esses episódios, desde o começo, que não existe a menor possibilidade de que dados dos usuários que estão armazenados pelo Google sejam disponibilizados direta ou indiretamente a qualquer autoridade. O Google só disponibiliza informações em casos extremos, quando existe ordem judicial.
O episódio afetou a imagem do Google? Vocês perderam usuários?
Absolutamente não. Não existe nenhum indício de que os episódios tenham afetado a forma como as pessoas usam nossos serviços, ou a frequência, o número de usuários, qualquer outra métrica que você escolha.
Depois que o jornal "O Globo" mostrou que brasileiros foram espionados, o governo disse que quer os servidores das empresas aqui. É viável?
Cada empresa tem suas políticas, mas o Google escolhe onde coloca dados do mundo todo pensando em eficiência. Ou seja, nós criamos um datacenter de forma que usuários tenham acesso mais fácil e rápido aos serviços. Nós não temos servidores no Brasil porque ainda não é eficiente --proximidade geográfica não quer dizer proximidade do ponto de vista de rede.
Você já disse que precisa lutar cada vez menos para que o Brasil receba atenção do Google. Onde o país está nas prioridades da empresa?
Em uma posição muito alta porque, primeiro, a população brasileira conectada é muito grande. Segundo, porque o brasileiro tem uma cabeça muito aberta para experimentar coisa nova. O tipo de feedback que conseguimos aqui no Brasil não é tão comum no resto do mundo. O Brasil realmente usa, fala a você o que acha, e isso para nós é fantástico.
Você é um brasileiro ocupando um cargo alto de uma grande empresa de tecnologia. Isso tem um valor especial?
É especial, mas não surpreendente. Há muitos brasileiros de sucesso no Vale do Silício, em Nova York, em todas as indústrias. Só no Google há pelo menos três vice-presidentes brasileiros. Brasileiros se preparam muito. Universidades brasileiras, principalmente quanto aos cursos de engenharia, são tão boas quanto as do resto do mundo.
Por que então não vemos 'Googles' sendo criados aqui?
Eu acho que não há nenhuma razão específica.
O Vale do Silício é um ímã gigantesco de talento porque ali se concentram todos os aspectos que facilitam a criação de novas empresas --quando você cria uma companhia, não trabalha sozinho. É uma questão de ecossistema.
O que o Brasil precisa fazer para ter algo como o Vale?
Acho que já está acontecendo, várias empresas no Brasil estão se destacando. A [desenvolvedora de jogos] Fun Games For Free, por exemplo, é formada por dois garotos da USP, engenheiros, que são supernovos e inteligentes. Montaram uma equipe de tamanho razoável contratando amigos e entraram em um mercado global. Esse ecossistema está começando a ser criado.
Quais são os requisitos para esse ecossistema ser criado?
Primeiro: toda a parte de processos burocráticos e logística necessária para registrar uma empresa. Isso aqui no Brasil sempre foi um problema e continua sendo.
Segundo: você tem que ter massas de escolas e outros veículos de formação de talento técnico. Não só de computação, mas de design, de arte, que são componentes importantes de uma start-up.
Também tem a parte de investimento. Hoje, aqui em São Paulo, boa parte dos VCs [investidores de capital de risco] do Vale do Silício já têm representação, então isso também já se resolveu. As próprias universidades também têm núcleos que incentivam o empreendedorismo. Eu acho que o ecossistema já está sendo formado.
O que acha das discussões do Marco Civil da Internet?
Acompanho por alto. Nós [do Google] apoiamos a liberdade de expressão não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Apoiamos fielmente a versão original do Marco Civil.
E a versão alterada [que tramita no Congresso]?
A alterada eu desconheço. Mas a filosofia do texto original do Marco Civil está completamente alinhada ao Google.
Você participa do desenvolvimento do Android desde cedo. Onde o vê daqui a alguns anos?
O Android foi desenvolvido como uma plataforma para quaisquer dispositivos móveis. Nós gostaríamos que continuasse caminhando na direção em que está, sendo o núcleo de celulares, tablets, relógios, televisores, aparelhos domésticos, sistemas de automação de residências e outros gadgets que serão inventados. Mas nós não temos nenhuma restrição.Muita gente tem falado sobre sistemas pró-ativos, que adivinham a vontade do usuário. Eles são o futuro?
Eu acho que sim. Recentemente, houve uma série muito importante de quebras de paradigma, do ponto de vista computacional, com o desenvolvimento de técnicas maravilhosas de aprendizado artificial.
O [assistente pessoal móvel] Google Now é o primeiro grande exemplo do que achamos que poderá ser possível com essas novas técnicas.
A quantidade de informações que cada usuário individual pode achar útil cresce exponencialmente. Se nós não desenvolvermos ferramentas que permitam que as pessoas encontrem o que for interessante, não vai ser possível lidar com essa massa gigantesca de informações.
E o Google Glass [óculos inteligentes do Google]?
Eu uso direto, é fantástico. A oportunidade de colocar na frente de uma pessoa uma tela que está sempre disponível, quase que sem nenhum esforço por parte do usuário, é uma coisa completamente nova.
E esse dispositivo, dentro desta haste, tem praticamente o poder computacional do [celular do Google] Nexus 4.
Acho que o mundo ainda não entendeu o potencial de inovação que o Google Glass como plataforma tem a proporcionar.
RAIO-X
HUGO BARRA
IDADE 36 anos
NASCIMENTO Belo Horizonte
CARGO Vice-presidente de produtos do Android no Google
FORMAÇÃO Graduação e mestrado em ciências da computação e engenharia elétrica pelo MIT
TRAJETÓRIA Fundou em Boston uma empresa de reconhecimento de voz para celulares chamada Lobby 7. Foi diretor da Nuance Communications, gerente de produtos móveis do Google e hoje é vice-presidente de produtos do sistema operacional Android..BRUNO FÁVERO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA....SNB

Robô falante japonês vai ao espaço em missão histórica

Kirobo, um pequeno robô com botas vermelhas e o corpo preto e branco, foi lançado do Japão para
a Estação Espacial Internacional para testar como as máquinas podem ajudar os astronautas com seu trabalho.
O robô de língua japonesa, equipado com tecnologia de voz e de reconhecimento facial, foi embalado juntamente com toneladas de suprimentos e equipamentos para a tripulação da base de pesquisa orbital.
Lançado do Centro Espacial Tanegashima, no sudoeste do Japão, no domingo, a aeronava vai chegar ao posto na sexta-feira, segundo o site da Agência de Exploração Aeroespacial do Japão. Em uma recente demonstração, Kirobo disse que "ter esperança de criar um futuro onde os seres humanos e robôs vivam bem juntos".
Como ele será responsável pelas primeiras conversas entre robôs e humanos no espaço, o principal interlocutor de Kirobo será o astronauta japonês Koichi Wakata, que deve decolar para a estação espacial com outros seis membros da tripulação em novembro. Wakata deverá assumir o comando do complexo em março. 
Kirobo - desenvolvido em conjunto pela Universidade de Tóquio, a Toyota Motor Corp e a Dentsu Inc - vai ficar no espaço até o final de 2014.
Com 34 centímetros de altura e pesando cerca de 1 quilo, Kirobo é projetado para navegar em gravidade zero e seu nome é uma combinação da palavra japonesa "kibo", que significa "esperança", e "robô".
Reuters...SNB

Japão lança com sucesso foguete espacial com tecnologia espanhola

Um foguete japonês que deve transportar equipamentos à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), entre eles dois satélites que incorporam tecnologia desenvolvida por uma empresa espanhola, foi lançado neste domingo com sucesso, informou a Agência Aeroespacial do Japão (Jaxa).
O foguete tipo H-IIB foi lançado às 4h48 (horário local, 16h48 do sábado em Brasília) desde a estação espacial da ilha de Tanegashima, na Prefeitura de Kagoshima (sudoeste do Japão), com o veículo de transferência de carga Konotori IV a bordo.
Quase 15 minutos após ser lançado, e uma vez em órbita, a unidade de carga se separou do foguete como estava previsto, assegurou a Jaxa.
Espera-se que o Konotori IV alcance na próxima sexta-feira 9 de agosto à ISS, até a qual deve transportar uma carga de 5,4 toneladas, no qual estão incluídos dois satélites Ardusat que incorporam sensores de medição de radiação produzidos pela empresa espanhola Libelium.
Estes sensores funcionam como um contador Geiger, embora tenham sido desenvolvidos para ter um tamanho e peso mínimos (4 por 3 centímetros e cerca de 40 gramas).
Os dispositivos detectam as partículas gama produzidas em qualquer lugar do espaço e permitem medir os níveis de radioatividade espacial gerados por fenômenos como as tempestades solares, segundo detalhou a empresa em comunicado.
Na carga do Konotori IV também se inclui comida para os astronautas, e outras equipes destinadas ao módulo experimental japonês Kibo que há a bordo da ISS.
Entre estes equipamentos está o androide Kirobo, cuja incumbência é o de se comunicar com o astronauta japonês Koichi Wakata, no que vai representar o primeiro experimento deste tipo no espaço exterior.
TERRA..SNB

domingo, 4 de agosto de 2013

Parlamentar diz que ameaça terrorista é a mais séria nos últimos anos

REUTERS
A suspeita de um possível ataque da Al Qaeda, que levou ao fechamento de embaixadas dos Estados Unidos no Oriente Médio, no domingo (4), é a mais grave em anos, e a comunicação entre os suspeitos de terrorismo é remanescente do período que precedeu os ataques de 11 de Setembro, disse um parlamentar norte-americano.
O Departamento de Estado norte-americano fechou 22 embaixadas e consulados e emitiu um alerta de viagens informando norte-americanos de que a Al Qaeda pode estar planejando ataques em agosto, especialmente no Oriente Médio e Norte da África.
Além disso, neste sábado (3), a Interpol fez um alerta global depois de fugas de prisões no último mês terem sido relacionadas à Al Qaeda.
"Há uma enorme quantidade de conversas lá fora", disse o senador Saxby Chambliss, principal republicano no Comitê de Inteligência do Senado, no programa da NBC "Meet the Press".
Ele disse que as comunicações monitoradas eletronicamente entre os suspeitos de terrorismo sobre o planejamento de um possível ataque "lembram muito do que vimos antes do 11 de Setembro."
A ameaça também levou alguns países europeus a fechar suas embaixadas no Iêmen, onde um braço da Al Qaeda se baseia.
"Esta é a mais séria ameaça que eu vi nos últimos anos", disse Chambliss.
Uma autoridade do serviço de inteligência dos Estados Unidos disse que houve discordância dentro da comunidade de inteligência sobre se o alvo em potencial seria o Iêmen ou a região de forma mais ampla, razão pela qual o alerta do Departamento de Estado descreveu que um ataque " pode ocorrer na Península Arábica ou emanar dela."
A informação sobre a ameaça também vem às vésperas da celebração do Eid no final do mês sagrado muçulmano do Ramadã, no final desta semana, e pouco mais de um mês antes do aniversário do 11 de Setembro, ocorrido em 2001.
SNB

Segredos brasileiros são bisbilhotados há décadas por outros países

MÁRIO CHIMANOVITCH
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A denúncia do ex-técnico da NSA Edward Snowden de que os EUA usam métodos sofisticados para nos espionar, que gerou furor nos meios governamentais, não deveria ter causado tanta comoção.
Casos ocorridos nos anos 80 e 90, e até antes, mostram que os segredos políticos e tecnológicos do Brasil são bisbilhotados há décadas não só pelos americanos, mas também por franceses, israelenses e sabe-se lá quem mais.
Documentos ultraconfidenciais do extinto Serviço Nacional de Informações revelam que várias instituições do governo e indústrias estratégicas foram alvo permanente de espionagem externa –os mais visados eram o CTA (Centro Técnico Aeroespacial) e o Instituto de Estudos Avançados da Aeronáutica, em São José dos Campos (SP).
Com o SNI voltado para o “inimigo interno”, a atividade de contraespionagem era praticamente nula no Brasil. Mesmo assim, vez por outra, investigavam-se agentes de “países amigos”, como John James Gilbride Jr., que também utilizava os nomes John Gilbraith ou Jack O’Brian.
Credenciado como vice-cônsul para assuntos econômicos, fachada comumente usada pela CIA no exterior, operou no Brasil de 1988 a 1992, nos consulados dos EUA no Rio e em São Paulo.
Estava empenhado em recrutar cientistas e pesquisadores do CTA, principalmente do programa aeroespacial. Deixou o país quando já estava “queimado” –ou seja, identificado como agente empenhado em ações prejudiciais a interesses brasileiros.
Apurou-se que Gilbride nunca fora diplomata de carreira. O assunto foi encoberto, já que o governo do Brasil queria evitar a eclosão de um escândalo diplomático.
O espião americano marcara almoço com importante cientista brasileiro numa churrascaria da alameda Santos (SP). Os agentes brasileiros que o vigiavam descobriram ser impossível pôr escutas no local devido à fortíssima interferência das antenas de rádio e TV. Terminado o almoço, o americano despistou nada menos que 11 agentes.
O interesse estrangeiro recaía também sobre os centros de pesquisa de universidades como a Unicamp e a USP, com tentativas persistentes de aliciar técnicos e cientistas.
Entre 1983 e 1985, a então Telesp, hoje Vivo, teve roubados carros e macacões dos serviços de manutenção. Após os furtos, a Polícia Federal localizou gravadores em postes do Vale do Paraíba.
Esses grampos –especulou-se– objetivavam registrar telefonemas de pessoas ligados ao setor aeroespacial.
MORTE MISTERIOSA
A misteriosa morte do tenente-coronel José Alberto Albano do Amarante, da Aeronáutica, em 3 de outubro de 1981, evidenciou a atuação de um espião do Mossad, o célebre serviço secreto de Israel.
Nos anos 70, o Brasil desenvolvia secretamente um programa nuclear para fins militares. Parceria com o Iraque assegurava os altos recursos financeiros necessários à sua execução; em troca, os iraquianos teriam acesso aos conhecimentos tecnológicos dos cientistas brasileiros.
O responsável pelo programa na Aeronáutica era Amarante, engenheiro eletrônico pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica visto como o pai da pesquisa nuclear no país.
Em outubro de 1981, ele foi atacado por uma leucemia galopante: morreu em dez dias. Sua morte passou a ser investigada pela Aeronáutica –teria sido contaminado de propósito por radiação.
A família acreditava que o cientista fora morto pelos serviços secretos de EUA e Israel, mas nada se comprovou. Na época, a mulher de Amarante contou que ele se queixava de ser seguido quando ia a SP ou ao Rio. Depois, quando seus restos mortais foram exumados para novo enterro no Rio, a família constatou sinais de violação da sepultura.
Amarante fundara o Laboratório de Estudos Avançados, grande centro de estudos destinado a se constituir na espinha dorsal da pesquisa nuclear do país. Seu objetivo era ambicioso: desenvolver o enriquecimento de urânio por raios laser (usados para detonar a reação nuclear), em vez do sistema de centrífugas, mais oneroso e lento.
No exterior, cresciam as suspeitas de que as experiências objetivavam desenvolver armas nucleares, o que sempre foi negado pelo Brasil.
ESCUTAS NO HOTEL
As investigações sobre a morte de Amarante revelaram a existência de um misterioso personagem, Samuel Giliad ou Guesten Zang, um israelense nascido na Polônia, que lutara contra os alemães na Segunda Guerra.
O israelense, apelidado de “Mister Pipe” por fumar cachimbo, chegou a São José em 1979 para gerir o Hotel Eldorado, o principal da cidade, que hospedava muitos estrangeiros, civis e militares, envolvidos em atividades industriais e científicas na área.
Extremamente simpático, Giliad mancava de uma perna devido a um tiro levado na guerra, contava. Hábil, instituiu no Eldorado reuniões sociais de secretárias e gerentes de indústrias, gente solitária capaz de soltar a língua estimulada por drinques. Assim, tinha acesso a informações valiosas: sabia quais delegações visitavam quais indústrias da região e, sempre que possível, a razão das visitas.
O israelense tentou se aproximar de Amarante, mas o oficial o repelia: nunca atendeu a nenhum convite. Passou a frequentar o dentista que atendia Amarante, procurando marcar horários logo depois dos do oficial.
O coronel aborrecia-se com a insistência, e suas suspeitas cresceram quando o dentista o alertou das perguntas que Giliad fazia: “O que é que a Aeronáutica está construindo em Cachimbo (Pará)? Ouvi dizer que se trata de uma grande pista de pouso. Mas para que servirá, se já existem as de Manaus e Belém?”.
Era em Cachimbo que estava sendo preparado o local para a primeira experiência do projeto nuclear brasileiro.
Diante dessas perguntas, o alarme foi dado, e Giliad passou a ser vigiado de perto. Descobriu-se que ele tinha cinco passaportes com nomes diferentes e instalara escutas nos quartos e demais dependências do hotel, para ouvir hóspedes e empregados.
Após dois anos, o israelense bateu em retirada de forma hábil quando percebeu que a vigilância crescia: publicou anúncio num jornal local procurando uma acompanhante para dividir despesas numa viagem à Argentina.
O Centro de Informações e Segurança da Aeronáutica errou ao responder ao anúncio enviando um agente (homem). Percebendo que fora desmascarado, Giliad deixou a cidade e desapareceu.
Foi durante a ação do agente israelense em São José que a mídia internacional revelou que o Brasil fazia remessas secretas de urânio enriquecido ao Iraque, disfarçadas em material bélico da Avibrás.
Foi também durante a sua estada na região que o “Latin America Weekly Report” noticiou a misteriosa morte de Amarante, expondo suas atividades secretas com impressionante riqueza de detalhes.

Finalmente, quando se divulgou, em 1981, a história das remessas secretas, o Mossad já sabia de tudo e as documentara com fotos. O episódio brasileiro, acreditam os especialistas, serviu como manipulação da opinião pública para que Israel justificasse seu bem-sucedido ataque aéreo ao complexo atômico de Tamuz, no Iraque.
SNB

Primeiro drone militar do Brasil deve começar a voar em 2014

O Falcão, primeiro veículo aéreo não tripulado (Vant) para uso militar do Brasil, deve realizar seu
primeiro voo de teste de qualificação já em 2014. A aeronave possui cerca de 800 quilos e é desenvolvida para o uso das Forças Armadas do Brasil, em missões de reconhecimento, aquisição de alvos, apoio a direção de tiro, avaliação de danos e vigilância terrestre e marítima.
O Vant, também conhecido como drone, possui autonomia de 16 horas e pode carregar cerca de 150 quilos de equipamentos. Produzida com fibra de carbono, a plataforma da aeronave pode transportar mais combustível e equipamentos do que outros aviões não tripulados da mesma categoria. A maior parte da estrutura do drone é desenvolvida com tecnologia brasileira, como sistemas de navegação e controle, eletrônica de bordo e a plataforma do avião. Já sensores e câmeras ainda precisam ser adquiridos de outros países.
O primeiro protótipo do Falcão já foi concluído e está em fase de adequação para voos experimentais. A aeronave foi desenvolvida pela Avibras e agora integra o portfólio de produtos da Harpia, uma empresa formada pela sociedade entre Embraer Defesa e Segurança, que detém 51% das ações, Avibras e Ael Sistemas, subsidiária da israelense Elbit Systems.
De acordo com o coordenador do projeto na Avibras, Renato Bastos Tovar, o Falcão está sendo adaptado para atender às exigências apresentadas pelas Forças Armadas, divulgadas em julho no Diário Oficial da União. A expectativa dos executores é de que seja possível firmar um contrato para desenvolver dois protótipos até 2016. Os próximos passos são exportar o drone para outros países e adaptá-lo para uso na área urbana, o que ainda não é permitido no Brasil.
"O Falcão está no mesmo nível tecnológico dos Vants similares estrangeiros. Em termos gerais, o Brasil está muito bem posicionado em nível mundial em tecnologia aeronáutica", explica o engenheiro aeronáutico Flávio Araripe d'Oliveira, coordenador do projeto Vant no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial do Instituto de Aeronáutica e Espaço (DCTA/IAE), que atua no projeto de desenvolvimento do sistema de controle de navegação do drone.
Sistema de navegação é ensaiado no Vant Acauã
O desenvolvimento do sistema de navegação do Falcão utiliza como plataforma de ensaio outro drone nacional, o Acauã. Com 150 quilos, ele começou a ser desenvolvido na década de 1980, quando foram produzidos quatro protótipos. A pesquisa parou por falta de verba e foi retomada em 2005, com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e apoio do Ministério da Defesa. "Já foram feitos 59 voos com sucesso. Atualmente, ele precisa de um piloto externo para pouso e decolagem. Estamos desenvolvendo um sistema para que estes procedimentos sejam automatizados", explica d'Oliveira.
Desde 2010, o Brasil possui drones israelenses, adquiridos pela Polícia Federal e Força Aérea Brasileira (FAB). Os equipamentos auxiliam em operações de proteção de fronteiras, grandes eventos, como a Copa das Confederações, e outras ações de segurança e monitoramento. "Os fuzileiros navais também já estão usando um drone menor, fabricado por uma empresa brasileira. Outra companhia tem uma proposta para o Exército. Estes equipamentos são muito úteis para dar apoio aos soldados", comenta d'Oliveira, que destaca a importância destes projetos para independência tecnológica do Brasil.
Entraves da falta de regulamentação
A indústria brasileira de desenvolvimento de drones ainda é formada por empresas de pequeno porte, que produzem equipamentos com até 25 quilos. Existem 12 fabricantes no país, das quais apenas uma é considerada de grande porte, por desenvolver equipamentos maiores.
Para a Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde), o principal entrave para o mercado dos drones é a falta de regulamentação do setor. Hoje não existe no Brasil uma norma que regule os padrões de produção e de circulação aérea destes equipamentos. Esta situação gera insegurança na cadeia produtiva, diz o presidente do comitê de Vants da Abimde, Antônio Castro. "Existem empresas que desenvolvem tecnologias equiparáveis às de outros países e têm capacidade de fornecer Vants para diversos setores, mas a falta de regulamentação ainda impede a comercialização adequada destes equipamentos."
No Brasil, apenas três drones civis já receberam certificados de autorização de voo experimental da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Estas aeronaves podem circular apenas em áreas pouco povoadas e não é permitida operação visando lucro. Para solicitações de uso comercial, a Anac informou que é feita análise individual de cada caso. Mesmo assim, os voos devem ocorrer em áreas restritas, com data, horário e itinerário definidos, e longe do espaço aéreo comum onde outros aviões circulam. A regra vale para drones de todos os portes.
De acordo com dados da FAB, de janeiro de 2012 a julho de 2013 foram feitas 90 solicitações de uso do espaço aéreo brasileiro por drones nacionais. Destes, 52 foram autorizados e oito continuam em análise. Não há informações sobre o número total de drones que trafegam no espaço aéreo brasileiro, mas representantes da indústria e dos órgãos de segurança reconhecem que há equipamentos voando sem autorização.
Em nota oficial, a Anac informou que espera publicar uma regulamentação para o uso civil destas aeronaves até 2014. Uma normativa do Departamento de Controle do Espaço Aéreo determina que elas só podem circular em uma área chamada de espaço aéreo segregado, onde não há circulação de qualquer outro tipo de aeronave. A FAB justifica esta decisão pela ausência de um piloto a bordo e pela impossibilidade dos drones cumprirem uma série de requisitos previstos nas legislações aeronáuticas, em especial, as relacionadas à capacidade de detectar e evitar acidentes.
Deutsche Welle
SNB