terça-feira, 10 de janeiro de 2012

'Ausência do Brasil em giro latino de Ahmadinejad indica afastamento'


BRASÍLIA - A ausência do Brasil no roteiro do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, pela América Latina indica que a relação entre os dois países esfriou sob o governo Dilma Rousseff, segundo analistas ouvidos pela BBC Brasil.
Governo brasileiro não foi procurado por Teerã para agendar a visita de Ahmadinejad - Ariana Cubillos/AP
Ariana Cubillos/AP
Governo brasileiro não foi procurado por Teerã para agendar a visita de Ahmadinejad
Ahmadinejad iniciou no fim de semana um giro por Venezuela, Equador, Cuba e Nicarágua. A viagem ocorre num momento em que o Irã sofre crescente pressão dos Estados Unidos e de países europeus para abandonar seu programa nuclear e ameaça impedir a circulação de petroleiros pelo estreito de Ormuz (responsável pelo transporte de um quinto do petróleo mundial) caso sofra novas sanções econômicas.
Segundo a assessoria de imprensa do Itamaraty, o governo brasileiro não foi procurado por Teerã para agendar a visita de Ahmadinejad. O órgão diz, porém, que as relações entre os dois países seguem normais e que não sofreram qualquer abalo desde o início do governo Dilma.
No entanto, pra o professor de relações internacionais da PUC-SP Reginaldo Nasser, a ausência do Brasil no roteiro indica que o país tem se distanciado da república islâmica.
"Desde que a Dilma tomou posse, temos colecionado algumas informações que permitem dizer que há uma certa mudança no posicionamento do Brasil (em relação ao Irã)", diz ele à BBC Brasil.
Segundo Nasser, o fato de o governo iraniano não ter consultado o Itamaraty sobre a viagem já é sinal desse distanciamento.
Afinal, diz ele, a presença do Brasil no roteiro tornaria a viagem muito mais importante, já que o país é a maior economia da região e tem desempenhado papel crescente na diplomacia internacional.
"Se o Ahmadinejad não fez nenhum contato, é porque se sentiu constrangido", afirma.
Nasser cita também entre os sinais de que as relações esfriaram o silêncio do Brasil no debate sobre o programa nuclear iraniano e sobre as crescentes tensões no Golfo Pérsico.
Em maio de 2010, Brasil e Turquia negociaram um acordo pelo qual Teerã receberia combustível nuclear para uso em pesquisas médicas. O acordo, entretanto, acabou cancelado pelo Irã após a adoção de uma nova rodada de sanções contra o país pelo Conselho de Segurança da ONU.
'Armas atômicas' 
Alguns integrantes do Conselho - principalmente os Estados Unidos - justificaram a decisão ao afirmar que o programa nuclear iraniano visa a produção de armas atômicas, intenção negada por Teerã.
Em novembro, a disputa teve novo capítulo com a divulgação de um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que afirmou que o programa nuclear iraniano tem uma vertente militar. Teerã voltou a rejeitar a afirmação e disse cumprir todos os requisitos do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TPN).
Segundo Nasser, ao não se posicionar oficialmente sobre o relatório da AIEA nem sobre a crescente tensão em torno do Irã, o Brasil sinalizou que pretende adotar uma posição "mais neutra" quanto ao país.
"Com o Lula, o Brasil tomava uma posição à frente do processo, e agora o país simplesmente está ausente disso."
O professor menciona ainda entre os sinais de afastamento uma entrevista de Dilma em novembro de 2010, quando, antes de tomar posse, ela disse ser "radicalmente contra" o apedrejamento da iraniana Sakineh Ashtiani, acusada de adultério e homicídio em seu país. O caso Sakineh ganhou repercussão mundial e provocou duras críticas de potências ocidentais à observância dos direitos humanos no Irã.
"Não diria que o Brasil vá tomar atitude de condenação ao Irã em algum fórum, mas por outro lado está se distanciando de atitude que o Lula vinha tendo", diz Nasser.
Protocolo 
Para Márcio Scalércio, professor de relações internacionais da PUC-RJ, o fato de o Itamaraty não ter sido procurado pelo Irã acerca da vinda de seu presidente não demonstra que o Brasil estava fora dos planos da visita.
"O protocolo diplomático implica que haja um convite oficial do Brasil, que não tomou a iniciativa", diz ele à BBC Brasil.
Segundo Scalércio, ao deixar de fazer o convite, o governo brasileiro se livrou de uma "grande polêmica".
"Certamente lideranças organizadas judaicas reagiriam à visita, e setores de oposição poderiam criar algum acontecimento para criticar o governo".
Scalércio também diz ver uma postura "distinta" do Brasil em relação ao Irã, mais crítica quanto ao tratamento dado aos direitos humanos no país persa. 
No entanto, afirma que é improvável que o Irã retalie o Brasil por essa mudança no comportamento, já que a diplomacia brasileira tem exercido um papel moderador nas relações do país persa com as potências ocidentais.
"O Irã não pode se dar ao luxo de responder a essa postura menos entusiasta do Brasil de modo ostensivo ou hostil. Se o torniquete contra as exportações de petróleo e gás iranianos apertar, o país já terá de arcar com problemas econômicos muito difíceis para querer arranjar mais confusão."
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Rússia não descarta que fracassos espaciais tenham 'causas externas'


Efe
 O chefe da agência espacial russa Roscosmos, Vladimir Popovkin, não descarta que os últimos fracassos da Rússia no setor aeroespacial tenham "causas externas", detalha nesta terça-feira o jornal russo "Izvestia".

"Não gostaríamos de culpar ninguém, mas hoje em dia existem meios muito eficazes para atingir alvos espaciais, e não se descarta que estes meios estejam sendo utilizados", declarou Popovkin.

O diretor da Roscosmos lembrou que ainda não estão esclarecidas as causas da avaria da estação interplanetária russa Fobos-Grunt que ficou orbitando ao redor da Terra ao invés de seguir para Marte após o lançamento em novembro.

"Também não temos claro as causas dos frequentes fracassos de nossos equipamentos que ocorreram quando sobrevoam parte da Terra que está à sombra para Rússia, onde não vemos o aparelho e não podemos receber dados do mesmo", acrescentou.

Popovkin assinalou que para melhorar sua situação a Rússia concluirá em 2013 a formação do sistema de vigilância e acompanhamento espacial "Luch-5", que será composto por três satélites. "Os satélites nos garantirão a visão ao vivo. Saberemos com certeza o que ocorre em que momento", detalhou.

O Ministério da Defesa russo anunciou na semana passada que os fragmentos da Fobos-Grunt poderiam cair na Terra em 15 de janeiro.

A estação interplanetária devia completar uma missão de 34 meses que incluía o voo a Fobos, uma das duas luas de Marte, a descida a superfície e, finalmente, o retorno à Terra de uma cápsula com mostras do solo do satélite marciano.

O projeto, com custo de US$ 170 milhões, tinha como objetivo estudar a matéria inicial do sistema solar e ajudar a explicar a origem de Fobos e Deimos, a segunda lua marciana, assim como dos demais satélites naturais no sistema solar.

"Izvestia" informou em dezembro que a Roscosmos restringirá a partir de 2012 as viagens ao exterior a todos os seus empregados que conheçam, direta ou indiretamente, informações classificadas como segredo de Estado.

Anteriormente, Nikolai Rodionov, ex-comandante-em-chefe do Sistema de Prevenção de Ataques com Mísseis da Rússia, declarou que radares americanos teriam condições de provocar a falha da Fobos-Grunt. Ele pediu ainda a utilização de menos componentes eletrônicos estrangeiros na fabricação de mísseis e equipamentos espaciais russos.

"Em qualquer momento (os fabricantes estrangeiros) poderiam emitir sinais, ativar chips capazes de deixar fora de serviço um míssil ou uma nave espacial", explicou Rodionov.

Agência Espacial Europeia lançará 1º foguete Vega em 9 de fevereiro


Efe
O primeiro lançamento do novo foguete Vega, o menor da frota europeia e com capacidade para transportar 1,5 toneladas, deverá ser realizado em 9 de fevereiro, anunciou nesta segunda-feira, 9, o diretor-geral da Agência Espacial Europeia (ESA), Jean-Jacques Dordain.
O custoso lançamento do Vega será um dos principais desafios para a ESA em 2012 - J.Huart/ESA/Divulgação
J.Huart/ESA/Divulgação
O custoso lançamento do Vega será um dos principais desafios para a ESA em 2012
A ESA está trabalhando com essa data como objetivo, mas Dordain explicou que o lançamento, que será feito no Centro Espacial Europeu de Kuru, na Guiana Francesa, pode atrasar por causa das novas tecnologias. O foguete levará ao espaço os satélites LARES e ALMASat-1.
Com o Vega, fabricado para cargas pequenas, o Ariane, para pesadas, e os russos Soyuz, para intermediárias, a Europa terá a sua disposição uma frota completa de foguetes.
O lançamento do Vega será um dos principais desafios para a ESA em 2012, que trabalhará com um orçamento de aproximadamente quatro bilhões de euros, um valor praticamente idêntico aos anos anteriores. A instituição tentará reduzir seus gastos em cerca de 175 milhões de euros até 2015.
O país que mais contribuirá para a ESA em 2012 será a Alemanha, com 25,9% do total (750,5 milhões de euros); seguido pela França, com 24,8% (718,8 milhões); e pelo Reino Unido, com 8,3% (240 milhões).
No total, o orçamento dos 19 integrantes da ESA (a Polônia deverá se unir à instituição esse ano) é de 2.900,1 bilhões de euros, ou 72,2% do total. Outros 876,7 milhões de euros virão da União Europeia e de outros contribuintes menores.
O calendário de eventos da ESA para o 2012 conta também com o lançamento, em 9 de março, do ATV-3, a terceira nave europeia de abastecimento não tripulada que será enviada à Estação Espacial Internacional a bordo de um Ariane 5 Kuru.
Também em março está previsto o fim das provas dos dois primeiros satélites de navegação do sistema Galileu, que devem começar a funcionar em 2014.
Em agosto ou setembro, serão colocados em órbita o segundo par de satélites, de um total de 30, que funcionarão como o concorrente europeu do sistema GPS.
Além disso, em 2012 será lançado o terceiro satélite Meteosat de segunda geração, e será inaugurada a missão Swarm, que estudará a mudança do campo magnético da Terra. 

Fique por dentro: Sanções contra o Irã


Sob intensa pressão externa e tensão doméstica crescente, o Irã vem tentando renovar alianças e angariar apoio.
A comunidade internacional vem redobrando as cobranças ao país por mais transparência no seu programa nuclear.
Os Estados Unidos e a União Europeia recentemente anunciaram novas sanções contra o país.
O jornalista Amir Paivar, do canal da BBC em persa, resumiu as principais questões na polêmica das sanções.
Neste vídeo, ele explica a gravidade da situação e a abrangência das medidas, entre outros. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC. 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Para conquistar Rocinha após ocupação e assaltos, PM usa charme feminino

Desde o fim de dezembro, 30 policiais militares femininos, jovens, bonitas e maquiadas fazem o patrulhamento ostensivo a pé nas principais vias de acesso à Rocinha, maior favela do Brasil,ocupada pelas forças de segurança desde 13 de novembro.Ao usar o charme feminino de PMs recém-formadas em um território conquistado em novembro, o objetivo é aproximar a população – menos resistente a mulheres que a policiais homens – e permitir a revista de mulheres, idosos e crianças.
O serviço de Inteligência do Bope, que controla a área, identificou que traficantes ainda escondidos na Rocinha têm usado pessoas menos “suspeitas” para transportar drogas dentro e para fora da comunidade. Policiais homens não podem fazer revista de mulheres; as recém-formadas não têm essa restrição.Elas se formaram em 15 de dezembro, em uma turma de 411 PMs – cerca de 130 mulheres – e, quatro dias depois começaram a atuar na Rocinha, com o apoio do Bope e do Batalhão de Choque, em sua primeira experiência operacional nas ruas. No CFAP (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças), tiveram curso de Policiamento Comunitário e estágio sobre UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).
Atuam nas rondas a pé pela comunidade, para completar o patrulhamento de motociclistas do Choque e as seis novas motos do Bope, adotado após os assaltos ao comércio em dezembro. São seis grupamentos de cinco policiais femininos em cada, que operam entre as 16h e as 22h nas ruas.
As “PMs fem” (femininos), como são chamadas no jargão policial, são comandadas também por uma mulher, a capitão do Bope Marlisa Neves, relações-públicas da unidade e que esteve na Rocinha desde o começo da operação. Na Via Ápia ou no Largo do Boiadeiro, duas das principais localidades da comunidade, as novas policiais tem sempre a companhia de um sargento ou cabo da Tropa de Elite da corporação.
“Ficamos em pontos estratégicos, entradas, e abordamos e fazemos revista em pontos-chaves”, explica a soldado Daiane Clive, 29 anos. Formada em Administração e com pós-graduação em Logística, ela era supervisora de RH antes de ser aprovada na corporação, em busca da “estabilidade” do serviço público.
Foto: Raphael GomideAmpliar
Comandante da tropa feminina na Rocinha, capitão Marlisa Neves usa brinco de caveira, símbolo do Bope
Fardadas, com colete à prova de balas, “cobertura” (boina), cabelo preso em coque ao estilo militar, elas não descuidam, porém, da maquiagem e dos brincos. Quase todas usam batom, blush e até sombra, sempre de modo discreto.
“Tem o lado positivo de ser PM feminino: a mulher inspira mais confiança, tem a aparência mais sensível. Mas respeitam a gente”, disse a soldado Marcela Gomes, 29 anos.
“Mais ou menos! Outro dia eu ouvi gracinha: ‘Queria ser revistado por essa mulher!’ Mas eram garotos, adolescentes”, completou a soldado Mônica Santos. Minutos depois, um homem na Via Ápia comenta, com um amigo: “Só menina (PM) bonita, né?”
Muito além desse tipo de “hospitalidade”, as novas policiais têm se sentido bem-vindas na comunidade, há menos de dois meses ocupada, após 30 anos de presença do tráfico. “A população aqui é bem receptiva – diferente de outras comunidades –, mais politizada. Parece uma questão cultural”, opinou Daiane.
Mudança de imagem da PM serviu com estímulo para entrar na corporação
Elas fizeram estágio de uma semana de instrução com o comando de UPPs. Agora, embora à disposição do 23º BPM (Leblon) e trajando o uniforme padrão da PM (camisa azul e calças pretas), elas ficam “alojadas” no Bope, unidade que comanda o policiamento na Rocinha.
Foto: Raphael GomideAmpliar
Recém-formadas, com sargento do Bope
Para a loura de olhos claros Marcela Gomes, 30 e professora de formação, a mudança da filosofia da PM – com ênfase em UPPs –, aliada ao incentivo de parentes policiais, pesou na decisão de entrar para a corporação, além do emprego público.
“A PM não tem mais a mesma imagem (negativa) de antes. Tem uma imagem positiva”, disse.
As mulheres ainda são minoria na PM. De acordo com a assessoria da corporação, até novembro – dado oficial mais atualizado disponível – eram 2.544 PMs femininos, o equivalente a 5,9% do efetivo total de 43.175 PMs.

Americano é condenado à morte no Irã por espionagem

A Justiça do Irã condenou à morte nesta segunda-feira um americano de origem iraniana acusado de trabalhar para a CIA, aumentando a tensão entre o país e os Estados Unidos. O ex-soldado americano Amir Mirzei Hekmati foi considerado culpado de espionagem e tem 20 dias para recorrer da decisão.Segundo a Justiça iraniana, Hekmati recebeu treinamento especial e serviu em bases americanas no Iraque e no Afeganistão antes de ir ao Irã para uma missão de inteligência. Ele foi condenado por colaborar com um país hostil, pertencer à CIA e tentar acusar o Irã de envolvimento em terrorismo.
Em sua decisão, um braço da Corte Revolucionária de Teerã afirmou que Hekmati é um “mohareb”, termo islâmico para “quem luta contra Deus”, e “mofsed”, que significa “aquele que espalha a corrupção na Terra”.Não está claro quando Hekmati foi preso, mas a imprensa iraniana sugeriu que a prisão tenha acontecido em agosto ou setembro do ano passado. O Irã afirma que Hekmati admitiu ser um espião e exibiu a suposta confissão na TV estatal.
O ex-militar tem 28 anos, nasceu no Arizona, estudou em Michigan e tem tanto cidadania americana quanto iraniana. Sua família negou que ele seja um espião e disse que ele estava no Irã para visitar as avós.
De acordo com o pai de Hekmati, Ali, ele trabalhava no Exército americano como tradutor de árabe. Quando entrou no Irã, ele estaria trabalhando como empreiteiro para uma empresa do Catar “que servia os militares americanos”. O pai não deu detalhes sobre esse trabalho.
O governo dos Estados Unidos exigiu a libertação de Hekmati e informou que diplomatas suíços, que representam os interesses americanos em Teerã, pediram para ver Hekmati, mas a solicitação foi rejeitada pelas autoridades iranianas.
O julgamento de Hekmati aconteceu dias poucos dias depois de os Estados Unidos anunciarem novas sanções contra o programa nuclear do Irã. Washington acusa Teerã de buscar o desenvolvimento de armas nucleares, o que o governo iraniano nega.
Com AP e Reuters

Começa contagem regressiva para colisão de sonda russa com a Terra


Efe
 A Agência Espacial Russa, a Roscosmos, começou a contagem regressiva para a colisão com a Terra da estação interplanetária Fobos-Grunt, que não conseguiu atingir a órbita com destino a uma das luas de Marte.

"Segundo os dados que temos e os prognósticos dos especialistas, o prazo de queda da nave oscila entre 10 e 21 de janeiro, com o dia 15 como a data mais provável", informou a Roscosmos em comunicado.

Quanto ao local da colisão da sonda, que ficou à deriva em torno da Terra desde o dia 8 de novembro, a Roscosmos é mais cautelosa e afirmou que isso não poderá ser previsto até 24 horas antes da entrada na atmosfera.

Neste momento, o raio de queda da sonda - 51,4 graus de latitude norte e 51,4 graus de latitude sul - abrange de Londres ao extremo sul do continente americano.

Os russos declararam que a nave, que deveria recolher amostras do solo de Marte e enviá-las à Terra em 2014, não representa nenhuma ameaça o planeta.

A superfície da Terra será atingida apenas por cerca de 20 a 30 fragmentos da nave, com uma massa conjunta que não ultrapassará os 200 quilos. O resto da sonda será desintegrado ao entrar em contato com a atmosfera, da mesma forma que o combustível que leva a Fobos-Grunt, que será queimado a cerca de 100 quilômetros de altura.

Nos últimos meses, duas naves também se chocaram com a Terra: o satélite meteorológico americano UARS, que caiu em setembro no oceano Pacífico e o alemão ROSAT, um mês depois, no Índico.

O Centro Geral de Reconhecimento Espacial do Ministério da Defesa russo, que determinou com precisão a data e o local da queda do UARS e do ROSAT, vigia os parâmetros da órbita da estação ininterruptamente.

Imagens da queda da Fobos-Grunt foram captadas nesta semana pelo astrônomo francês Thierry Legault, na altura de Nice, no litoral mediterrâneo da França.

A Fobos-Grunt pretendia ser a primeira nave espacial a pousar na superfície de Fobos, uma das duas luas do Planeta Vermelho, para estudar a matéria inicial do sistema solar.

Para Igor Lisov, diretor da revista " Cosmonautics News ", "a estação foi projetada e construída com graves defeitos, do sistema de comando ao programa de abastecimento".

O programa de lançamentos russo está em plena crise após vários acidentes; o primeiro ocorreu em agosto do ano passado em mais de 30 anos de funcionamento por um dos cargueiros Progress, que abastecem a plataforma orbital.

Lisov explicou que entre a desintegração da União Soviética, em 1991, e 2007 o programa espacial russo "teve um financiamento estatal abaixo do mínimo de subsistência" e que o recente aumento do investimento não será notado na qualidade do trabalho em menos de cinco anos.

"O envelhecimento dos especialistas, o estado obsoleto dos equipamentos, a paralisação da produção de alguns componentes e materiais e a interrupção do trabalho em certos campos da cosmonáutica" também se somam a essa situação, acrescentou.

Devido aos baixos salários, a grande maioria dos especialistas da indústria espacial russa tem mais de 60 anos ou menos de 30, o que põe em risco o futuro do setor.

"Só conservamos o programa de naves pilotadas, os satélites de comunicações e o sistema de navegação GLONASS", disse Lisov, que considerou que a respeitada herança da escola soviética, "em grande medida, já se perdeu".

Lisov acredita que a Rússia, a primeira potência a enviar um homem ao espaço (Yuri Gagarin, em 1961), conseguirá manter a paridade com a China, mas deverá renunciar ao desejo de competir em pé de igualdade com os Estados Unidos.