quarta-feira, 8 de maio de 2013

Qual era o alvo?


Gilles Lapouge - O Estado de S.Paulo
Israel atacou áreas militares perto de Damasco. Aparentemente, foram atingidos depósitos de armas iranianas (mísseis capazes de alcançar Tel-Aviv) destinados ao Hezbollah libanês, milícia xiita aliada tanto de Bashar Assad quanto do Irã. Qual a urgência estratégica desse ataque espetacular? Evidentemente, não podemos contar com Israel para esclarecer. A força dos israelenses, além de sua coragem, seu talento, suas armas, está no silêncio. Israel ataca e cala. 

A Turquia e a Jordânia oferecem bases para a retaguarda dos rebeldes que combatem Assad. O Irã e o Hezbollah libanês apoiam o ditador. Os europeus e os americanos são favoráveis à insurreição e perguntam-se continuamente se farão alguma coisa ou não. Por que Israel entraria na dança quando, dois anos depois do início da revolta, o regime sírio está terrivelmente enfraquecido? Além disso, há 30 anos existe entre Síria e Israel uma espécie de pacto tácito de não agressão. 

E o Hezbollah? Certamente, é o inimigo íntimo de Israel. A brigada xiita que controla o sul do Líbano e a planície oriental do Bekaa é o pesadelo dos generais israelenses desde 2006, quando a máquina de guerra do país se lançou contra os combatentes do Hezbollah, hábeis, corajosos e competentes. 

E, além do Hezbollah, poderemos entrever outro alvo, o Irã, justamente o sustentáculo do Hezbollah? Há sete anos, o frenético Mahmoud Ahmadinejad berra que quer a morte de Israel, nega aos judeus o direito de viver no Oriente Médio e acrescenta que o Holocausto não foi tão terrível. Ao mesmo tempo, os israelenses acreditam que os iranianos já não compartilham das obsessões infantis de Ahmadinejad. O povo persa nunca mostrou verdadeiro ódio pelos judeus. 

Qual seria o verdadeiro alvo? O especialista Renaud Girard, no Figaro, indaga se o verdadeiro objetivo não seriam os sunitas. "Os sunitas, que se espalham pela região desde a Primavera Árabe, são o verdadeiro perigo para Israel", afirma. "Para os sunitas (muito mais do que para os xiitas iranianos), Israel é o demônio. Quando tomarem Damasco, eles se lançarão imediatamente contra o Estado judeu, porque são movidos por um ódio religioso que é sempre mais profundo do que a diferença política." 

Aceitemos a análise de Girard, um homem competente, mas ela nos obriga a um malabarismo intelectual: Israel teria atacado os xiitas do Hezbollah enquanto seus inimigos reais seriam os sunitas? Decididamente, como dizia o general Charles de Gaulle, o Oriente Médio é "complicado".

Tradução de Anna Capovilla.

* Gilles Lapouge é correspondente em Paris.
SNB

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