segunda-feira, 15 de abril de 2013

O dilema entre a Lua e os asteroides


Os norte-americanos têm pela frente uma escolha difícil: terão de optar entre a criação de uma base na Lua e a exploração dos asteroides, segundo propôs o presidente dos EUA Barack Obama. Tanto um, como outro programa pressupõem gastos gigantescos e, por isso, é preciso optar por um dos dois.

Até há bem pouco tempo, a resposta parecia evidente. Os cientistas tinham começado a estudar a sério os asteroides. No entanto, há dias, um grupo de congressistas colocou à discussão a proposta de lei “Sobre a recuperação da liderança norte-americana no espaço” (REAL Space Act) que prevê o envio do homem à Lua até 2022 para uma posterior criação de uma base lunar habitável.
Os autores da iniciativa afirmam que o seu propósito não é a repetição das missões Apollo de há 40 anos. A missão à Lua tem objetivos claros e exequíveis que, na opinião dos congressistas,  irão não só permitir à astronáutica estadunidense recuperar o estatuto de líder da exploração espacial. O principal é a presença humana noutro corpo celeste exigir o desenvolvimento de novas tecnologias e provocar grandes avanços em muitas áreas científicas. A experiência acumulada poderá ser aproveitada nas futuras expedições ao espaço mais longínquo, incluindo a Marte.
Na Lua, sem dúvida, ainda há muito trabalho para os cientistas. Desde meados dos anos de 1990, esses estudos são realizados com sucesso por satélites, explica o docente da faculdade de física da Universidade Estatal de Moscou Vladimir Surdin:
“Nos últimos anos, houve sondas de diferentes países em funcionamento em redor da Lua. Nos próximos tempos,  sondas automáticas deverão pousar na superfície lunar. A Roscosmos também está se preparando para esses trabalhos, que não requerem nenhuma intervenção humana. Até deve ser prejudicial porque iria encarecer em muito esse programa, sem lhe acrescentar nada de novo. Hoje não há necessidade de uma base habitável na Lua. Nós ainda não sabemos que recursos aí poderão ser explorados e o que poderá haver de útil para a Terra.”
Para levantar o tema “lunar”, os congressistas escolheram uma altura muito propícia. Os EUA têm cada vez mais críticos do “projeto dos asteroides”. A sua versão inicial previa o desembarque de pessoas até 2025 num asteroide ainda por nomear.
Já mais recentemente, a NASA quis intercetar um pequeno corpo celeste, dirigi-lo para a órbita lunar e, em 2021, enviar até ele uma nave tripulada. Entretanto, a versão anterior do programa não foi cancelada e, por isso, ainda não é claro se se trata de apenas um projeto.
A ideia da missão aos asteroides surgiu de forma artificial. Ela apareceu em 2010, quando o presidente dos EUA Barack Obama cancelou o programa lunar do seu antecessor George W. Bush. É o que explica Andrei Ionin, membro-correspondente da Academia Russa de Cosmonáutica:
“Era preciso avançar com um objetivo por motivos puramente políticos. Não se pode encerrar tudo. Era preciso dizer: não vamos para um lugar, mas vamos para outro. Foi então que surgiu o projeto dos asteroides. Ele não faz muito sentido, todos percebem que esse objetivo não tem qualquer justificação e ele, por si próprio, está recuando para segundo plano.”
As divergências de opinião relativas à melhor escolha espacial norte-americana para a próxima década foi o resultado do deserto de ideias que há muito se instalou na astronáutica. Depois das missões Apollo, não voltaram a ser colocados objetivos da mesma ordem de grandeza. Agora faz falta um grande projeto que cumpra com uma série de condições. Ele deve ser compreensível para os políticos e para a opinião pública, e também tem de ser interessante para os agentes econômicos e para as pessoas que trabalham na área espacial, afirma Andrei Ionin:
“O voo até um asteroide não corresponde a nenhuma dessas exigências. A Lua corresponde, mas só parcialmente. Na minha opinião, o único projeto que iria cumprir todas essas condições é o projeto marciano. O regresso à Lua poderá, realmente, ser uma etapa para a sua realização. Com a finalidade precisa de seguirmos depois para Marte.”
Como argumento a favor do projeto lunar os congressistas referem os planos de outros países para o desembarque de homens na Lua. Eles existem, por exemplo, por parte da Rússia e da China.
Se bem que, neste caso, a questão da competição é apenas uma maneira de tornar o tema mais picante, para que dê nas vistas, diz Andrei Ionin. A iniciativa dos legisladores já deve ser do conhecimento do chefe da NASA Charles Bolden. No início de abril, ele aprovou os planos para a exploração de asteroides e sublinhou que não estão planejadas expedições até à Lua. Se bem que seja difícil imaginar um funcionário público emitir uma declaração que contrarie a política espacial de Obama.
No entanto, e considerando as metamorfoses inesperadas do programa dos asteroides, nos próximos meses poderemos assistir a transformações interessantes nos planos da NASA.
SNB

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