quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Hackers divulgam supostos documentos sírios


GUSTAVO CHACRA , CORRESPONDENTE / NOVA YORK - O Estado de S.Paulo
Hackers do grupo Anonymous publicaram ontem e-mails que afirmam ter roubado da missão da Síria na ONU. Entre os documentos, há orientações que o ditador Bashar Assad teria recebido antes de conceder uma entrevista à veterana jornalista americana Barbara Walters, da rede de TV ABC. Parte dos documentos apareceu no jornal israelense Haaretz.
Na entrevista à ABC, que foi ao ar em 7 de dezembro, Assad negou ter comandado as ações das forças de segurança, responsáveis pela morte de cerca de 6 mil pessoas, segundo as Nações Unidas. Nas instruções supostamente obtidas pelo Anonymous, assessores de comunicação da diplomacia síria pedem a Assad mencionar temas e ideias que tornassem suas ações mais palatáveis "à psique da sociedade americana".
"É extremamente importante mencionar que 'erros' foram cometidos no começo da crise porque não tínhamos uma força policial muito organizada. As mentes americanas podem ser facilmente manipuladas quando eles escutam que erros são cometidos e estamos 'consertando' esses equívocos", diz trecho de um e-mail escrito por Sheherazad Jaafari, adida de imprensa da Síria em Nova York e filha do embaixador Bashar Jaafari, para a assessora de Assad, Luna Chebel. "Vale a pena mencionar também o que vem ocorrendo em Wall Street (ocupação por ativistas) e a forma como as manifestações têm sido reprimidas pelos policiais."
A integrante da missão síria na ONU, em outro trecho, acrescenta que "a audiência americana não liga para reformas. Eles não entendem isso e tampouco estão interessados".
Sheherazad Jaafari também recomenda dizer que a Síria, "diferentemente dos Estados Unidos, não tortura seus cidadãos". "Vale citar o caso de Abu Ghraib, no Iraque, como exemplo", acrescenta, referindo-se ao escândalo de abuso, humilhação e tortura de presos iraquianos por parte de soldados americanos que se tornou público em 2004.
Na entrevista, Assad usou o mote americano da guerra ao terror para argumentar que estava combatendo grupos terroristas. Disse ainda que a maior parte dos mortos nos confrontos era de soldados sírios atacados por grupos insurgentes armados.
Assad afirmou ainda que "só um líder louco seria capaz de massacrar seu próprio povo" e criticou a entrevistadora quando ela perguntou a ele sobre a morte de um garoto, supostamente nas mãos dos militares.

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