terça-feira, 24 de janeiro de 2012

DILMA - Estratégias de uma Presidente



Guilherme Amado
 Estilo de governar da presidente ainda pega os assessores de surpresa, mas é facilmente reconhecido por quem a conhece da luta armada.

Esqueça o mito de pouca vocação política ou ingenuidade na relação com aliados. O primeiro ano do governo Dilma Rousseff, com a popularidade incólume apesar da queda de sete ministros, mostrou como seu modo de exercer o poder é diferente da imagem que tinham a maioria do PT e muitos dos ministros do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Despertada para a política pelas organizações de resistência armada à ditadura — integrou o Comando de Libertação Nacional (Colina) e a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) —, Dilma emprega no governo uma série de táticas típicas da época. Os lances do xadrez político presidencial ainda pegam de surpresa assessores e outros políticos. Mas não quem acompanhou sua trajetória desde os anos 1970.

 Companheira de cela de Dilma, a jornalista Rose Nogueira nunca duvidou da vocação política da amiga. Na Torre das Donzelas, prédio encravado no presídio Tiradentes, em São Paulo, onde as duas e dezenas de outras mulheres ficaram presas durante a ditadura militar, Rose já percebia o imenso potencial da companheira. "Quem participou da resistência tinha vocação política. Só que não podia exercer na ditadura. As pessoas pensam que a política é institucional, mas não é só isso", defende Rose, que integrou a Ação Libertadora Nacional.

Lula sempre defendeu a habilidade política de sua chefe da Casa Civil. No governo do ex-presidente, não foram poucos os que duvidaram de seu faro ao apostar em Dilma, principalmente pelo jeito durão da presidente. Muitas vezes tornado público pelas cobranças que faz de forma ríspida, esse seu lado definitivamente é uma característica dela como política. "É o jeito dela. As pessoas estranham, reclamam, mas é algo com que se aprende a lidar", explica um funcionário do Planalto que atende à presidente.

Rose não sabe dizer se foram as experiências de vida ou os atributos intrínsecos a Dilma que a moldaram. "Acho que é um conjunto. São características que a pessoa traz com ela, mas também o que ela passou. A luta de resistência forma um espírito mais calejado", define.

 Dilma sempre foi estudiosa. Da mesma forma que hoje chega a corrigir técnicos especialistas, chamava a atenção na prisão pela paixão pela leitura. Devorava tanto literatura brasileira quanto obras mais politizadas. Levou a mesma curiosidade para a área de Minas e Energia, o que a projetou para integrar o primeiro governo Lula.

Lado emotivo

Mas o racionalismo e a dureza não impedem a presidente de ter seus momentos de ternura. É comum que ela se emocione em eventos públicos, ao assinar leis ligadas à área social ou a temas de direitos humanos. Sua menção aos "brasileirinhos" mortos no massacre em Realengo, em abril do ano passado, mostrou com mais força o lado emotivo de Dilma. "A cultura dela e do Lula é ligada às pessoas, ao dia a dia. Eles sabem o que é ir à padaria, sabem quanto custa um pãozinho", derrete-se Rose Nogueira.

Na centralização de poder, porém, os dois são bem diferentes. Tão logo um integrante de seu ministério passa a ser chamado de "superministro", pelo acúmulo de poder no governo, eles mesmos correm para desmentir o que tacham de exagero. Dilma não gosta de ter sombras nem de subordinados que falem muito. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, dava muito mais declarações e entrevistas no governo Lula do que faz na gestão de Dilma. Ao assumir a Casa Civil, Gleisi Hoffmann recebeu ordem explícita da presidente de não dar entrevistas. "Seu cargo não é para falar", teria ordenado a presidente. O silêncio de Gleisi mostra que Dilma pode ficar tranquila. A chefe da Casa Civil tem cumprido à risca a determinação.
 

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