sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Base do Brasil no interior da Antártica já envia dados


Por Daniela Chiaretti | De São Paulo

O Brasil é dono do laboratório científico latino-americano mais ao sul do planeta. O módulo Criosfera foi instalado no interior da Antártica e está transmitindo diariamente dados para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos, no interior de São Paulo. O primeiro resultado já tem impacto: o Brasil agora tem uma medida independente de CO2 na Antártica.
Os dados enviados pelos equipamentos instalados no Criosfera confirmam medidas feitas pelos Estados Unidos no continente e também no Havaí: 386 ppm (partes por milhão) de CO2. “Isso confirma os 40% de aumento na concentração do gás desde a Revolução Industrial”, diz o glaciologista Jefferson Simões, do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e líder da expedição. Nesse ritmo, acredita-se que 400 ppm de CO2 serão atingidos em quatro ou cinco anos. Chegar a 500 ppm pode significar um aumento de 3º C na temperatura da Terra até meados deste século.
“É importante ter uma medida dessas em um lugar tão isolado, porque não se tem nenhuma interferência local no dado”, explica Simões. “Ali não há indústrias nem veículos ou geradores a diesel.” O Criosfera funciona com painéis solares no verão antártico e tem energia produzida por quatro turbinas eólicas no inverno.
O laboratório possui bombas de sucção que filtram o ar e coletam aerossóis. “Vamos coletar o carbono negro”, diz. Trata-se da parte negra da fuligem produzida na queima de combustíveis fósseis e nas queimadas. “Em um ano vamos saber quanto chega ao interior da Antártica”, diz Simões. A ideia é ver o impacto das queimadas do Brasil no continente gelado.
Os pesquisadores brasileiros da Expedição Criosfera retornaram ontem ao Brasil depois de passarem 45 dias na Antártica. Outra pesquisa realizada foi perfurar o gelo ao longo de cem metros de profundidade e retirar um cilindro (conhecido por “testemunho”), que pode indicar a variação do clima e da química da atmosfera na Antártica nos últimos 300 anos.
“O Brasil tem agora na Antártica uma base de pesquisa avançada, uma porta de abertura para expandir o Programa Antártico no continente”, afirma Simões. O investimento na expedição foi de R$ 2 milhões, sendo 80% na logística da operação, conta Simões, indicado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação como o delegado brasileiro no Comitê Científico Internacional Sobre Pesquisa Antártica.

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