terça-feira, 11 de outubro de 2011

Brasil-Argentina - Na política do "uno por uno" cabe até avião e blindado


A exigência argentina de contrapartidas à importação de produtos finais não é um tema que afeta apenas guloseimas. Está presente em áreas estratégicas da relação entre o Brasil e a Argentina, com total concordância do governo brasileiro. Um exemplo é o que o ministro da Defesa, Celso Amorim, chamou de "integração binacional das cadeias industriais".
A Embraer está liderando o desenvolvimento de um avião cargueiro, o KC-135. Um acordo, de 2009, determinou que a Argentina forneça alguns componentes, entre eles o leme, para o projeto, ainda em fase de desenvolvimento.
No início de setembro, Amorim esteve em Buenos Aires e discutiu com o ministro da Defesa da Argentina, Arturo Puricelli, a possibilidade de se repetir o mesmo acerto em relação ao Guarani, um veículo blindado já em produção pela Iveco que irá substituir o Urutu no Exército brasileiro. Com a entrada de fornecedores próprios, a Argentina compraria o blindado.
O fomento à indústria é um dos eixos da política econômica e o fim do regime de licenças automáticas a diversos produtos fez com que desde 2009 começasse a crescer o que os importadores argentinos chamam de política do "uno por uno". Ou seja: só recebe licença para importação aquele que se compromete a exportar algo, não importa o quê ou para quem.
O "uno por uno" não está no Diário Oficial: trata-se de uma recomendação feita aos importadores por autoridades do governo argentino. A "lei" não escrita fez com que importadores de produtos de grife, sobretudo no segmento de luxo, começassem a fazer acordos com produtores locais para desenvolverem uma produção própria que possa ser exportada.
Mas o fomento às exportações não é o principal objetivo do governo argentino. O verdadeiro alvo de políticas como a do "uno por uno" é estimular a produção interna. Em termos concretos, graças a esta política de desestímulo às compras externas o governo conseguiu em alguns casos fomentar um processo de substituição de importações, sobretudo de produtos que requerem um baixo índice de nacionalização.
Entre os seus feitos, está a reativação da produção de TVs e celulares e a implantação das primeiras fábricas de microcomputador na Zona Franca da Terra do Fogo. Entre as empresas que recentemente fizeram investimentos na Terra do Fogo está a Positivo, a maior fabricante brasileira de computadores, e a canadense RIM, dona da marca BlackBerry.
A mesma estratégia também é usada para produtos de uso intensivo de mão de obra e baixa sofisticação tecnológica, como calçados e têxteis. E foi intenso no segmento de linha branca. Um relatório divulgado ontem pelo governo argentino apontou que 80% do mercado anual de 1 milhão de refrigeradores é abastecido com produção doméstica. Em 2003, a fatia era de 30%. O atraente mercado consumidor argentino fez com que importadores contornassem as dificuldades para as compras internacionais produzindo no próprio País, apesar de um custo de produção maior.

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