quarta-feira, 24 de agosto de 2011

China e Brasil devem lançar novo satélite em novembro de 2012


Após cinco anos de atrasos, representantes do Brasil e da China marcaram para novembro do ano que vem o lançamento do quarto satélite binacional. Mas o cumprimento do cronograma depende da aprovação, pelo Ministério de Ciência e Tecnologia, do envio de cerca de 60 técnicos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais) à China.
“Não podemos atrasar mais, senão vamos implodir o nosso relacionamento”, disse Marco Antonio Raupp, presidente da AEB (Agência Espacial Brasileira), em entrevista na segunda-feira (22), durante coquetel na embaixada brasileira em Pequim.
Raupp explicou que serão necessárias três equipes de 20 técnicos, que se revezariam em turnos de alguns meses. Ele disse ter recebido uma sinalização positiva do ministro da Ciência, Aloizio Mercadante, embora a contratação ainda não esteja oficializada.
Ao seu lado, o diretor do Inpe, Gilberto Câmara, confirmou a possibilidade dessas contratações, mas disse que deixará o cargo em dezembro, como revelou a Folha na semana passada, por não conseguir ampliar seu quadro de funcionários.
“Estou frustrado porque o Inpe não recebeu os recursos necessários para a renovação do instituto”, disse Câmara, que está há 30 anos no Inpe, dos quais os últimos seis anos no cargo máximo.
Além do quarto satélite, o Cbers 3 (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, na sigla em inglês), os dois países da subcomissão de cooperação espacial definiram ainda o lançamento do Cbers 4 para agosto de 2014.
Iniciado em 1988, o projeto Cbers é a parceria mais antiga entre Brasil e China. Já foram lançados o Cbers 1 (1999), o Cbers 2 (2003) e o Cbers 2B (2007). Todos geram imagens da superfície da Terra, usadas em áreas como agricultura e meio ambiente.
“Comparativamente, o Brasil é o parceiro mais íntimo da China em tecnologia espacial”, afirmou Li Lijie, responsável pela cooperação internacional do Centro de Lançamento e Rastreio de Satélites da China (CLTC, na sigla em inglês).
Entre os novos projetos, afirma Li, o Brasil monitorará, via base de Alcântara, a nave espacial não tripulada Shenzhou 8 e o laboratório espacial Tiangong 1, que serão lançados nas próximas semanas.
O funcionário da CLTC diz que a China tem interesse ampliar a parceria com relação à base de Alcântara, mas não especificou em quais áreas.
Os dois países ainda discutem um novo plano de mais dez anos de colaboração especial, conforme acordado durante a visita da presidente Dilma Rousseff a Pequim, em abril. Um dos pontos seria a construção de mais dois satélites.
ASSIMETRIA
Câmara admite que o programa está atrasado por causa de problemas do lado brasileiro, responsável por 50% dos equipamentos do Cbers 3. As dificuldades incluíram dificuldades de orçamento, falta de qualificação da indústria brasileira e componentes embargados pelos EUA.
O diretor do Inpe afirma que a parte brasileira dos equipamentos agora está pronta e que a demora “é o custo da inovação. Aprende-se a fazer fazendo.” Ele disse, porém, que “o Brasil precisa entrar no ritmo da China” caso queira cumprir o novo cronograma. “É um programa assimétrico na medida em que o programa chinês é muito maior do que o brasileiro”, disse.
Integrante da equipe brasileira que negociou o primeiro acordo, Raupp disse que os dois programas espaciais são “incomparáveis”: “Nos próximos cinco anos, os chineses lançarão 19 satélites. Nós devemos lançar 3 [incluindo os dois Cbers binacionais]“.
Câmara diz que a distância crescente na área espacial reflete a escolha de cada país _ele lembra que a China não possui um sistema público de saúde. “Eles têm um programa de astronautas, o Brasil tem o SUS”, comparou.

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