sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Em Defesa, governo alterna licitações com escolhas diretas

No setor bélico – ou, como se diz, na área de “Defesa” – as declarações são poucas, mas os comentários de pé de ouvido são muitos. Recentemente, Paris recebeu a Euronaval, feira de armamento onde os brasileiros participaram através da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa (Abimde). E não faltaram comentários de gente ligada à Base Industrial de Defesa (BID). No estande da BAe Systems, a Marinha do Brasil anunciou que suas futuras corvetas terão radares desse grupo inglês, em associação com a brasileira Bradar – de propriedade da Embraer e que foi contratada para produzir o radar Saber, desenvolvido pelo Centro Tecnológico do Exército para uso em instalações terrestres e detecção de alvos aéreos a curta distância.

Muita gente ficou perplexa ao saber que a Marinha não fez processos de seleção, seja para a escolha da fornecedora estrangeira, nem para a escolha da parceira nacional. Os críticos dizem que há alemães, australianos, franceses, italianos, suecos, israelenses e russos produzindo equipamentos similares ou até mesmo de tecnologia mais recente. E, por aqui, teriam condições de disputar o negócio brasileiras como Iacit, Mectron, Atmos, Omnisys e Avibras.

Uma fonte confidencia à coluna: “Um processo formal de seleção seria importante para não deixar qualquer tipo de dúvida quanto às escolhidas BAe e Bradar serem as que melhor atenderão às necessidades da Marinha do Brasil em termos de tecnologia de ponta, de condições de fornecimento, de transferência de conhecimento, de conteúdo local e de preço”. Para essa fonte, o fato de a Bradar ser uma Empresa Estratégica de Defesa (EED) jamais poderia ser fator determinante, pois há outras nacionais que também são EED.

Em outro fórum – o Seminário de Proteção de Grandes Eventos, organizado pelo Exército brasileiro e pela Embaixada britânica – foi divulgado que o míssil de defesa antiaérea a ser colocado nas novas corvetas será fornecido pela Avibras em parceria com a gigante européia MBDA, que também tem a inglesa BAe Systems como uma de suas proprietárias majoritárias. O míssil Sea Ceptor, selecionado pelo Brasil, é o mesmo que foi recentemente adotado pela Marinha inglesa. Esta decisão também teria sido tomada sem que fosse conduzido processo formal de seleção.

Abrindo nova frente, a Marinha brasileira acaba de publicar contrato para a compra de outros tipos de mísseis da MBDA por 131 milhões de euros. Foi comentado com esta coluna: “Uma contradição estaria no fato de a Força Aérea Brasileira ter investido muito dinheiro, durante anos, na brasileira Mectron, para a produção de mísseis genuinamente nacionais. Além disso, continua gastando muito no desenvolvimento conjunto de moderno míssil ar-ar com a Denel, empresa sul-africana capacitada e experiente neste tipo de artefato. O investimento que já foi feito e o trabalho que vem sendo realizado por Mectron e Denel poderiam ser expandidos para resultar em míssil antiaéreo perfeitamente adequado às necessidades das novas corvetas e, posteriormente, aperfeiçoados para instalação nas futuras fragatas de grande porte. A vantagem em não adicionar novo míssil estaria na propriedade intelectual e no menor preço decorrente da evolução de tecnologias já transferidas e existentes no país. A Avibrás poderia continuar dedicada à sua comprovada vocação para desenvolver e fabricar os artefatos disparados através do Sistema Astros e destinados a ações contra alvos na superfície”.

Há que se elogiar que o governo brasileiro vem dando destaque ao rearmamento nacional, mas mantém uma política estranha, em que tanto abre licitações democráticas, como privilegia certas empresas nacionais e alguns gigantes estrangeiros sem maiores explicações, o que ocorreria se houvesse melhor diálogo com a elite empresarial nacional.



Israel

Documentos disponibilizados pelo Ministério da Defesa após requerimento de informações do deputado federal Ivan Valente (Psol-SP), sobre as atuais relações do Brasil com Israel e suas empresas militares, revelam que os contratos bilaterais chegam a quase R$ 1 bilhão. Opera Mundi teve acesso a esses documentos, que confirmam o fluxo comercial com empresas israelenses, embora as autoridades brasileiras neguem que exista uma cooperação militar de fato em vigor com Israel.

O material foi solicitado à época da operação Margem Protetora, ofensiva contra o grupo islâmico Hamas na Faixa de Gaza que resultou na morte de mais de 2 mil palestinos e 70 israelenses, durante cerca de 50 dias de conflito.

“Nós estamos atrás dessa documentação há muito tempo e sabíamos que o Brasil tinha relações com indústrias israelenses. Há contratos que não estão muito esclarecidos, o que exigirá novos requerimentos”, explicou Valente a Opera Mundi. “Estamos comercializando com a máquina de guerra de Israel. É importante termos acesso a essas informações oficiais. A própria divulgação desses documentos vai gerar uma cobrança mais direta dos rompimentos de contratos militares. É um instrumento de pressão para que a diplomacia brasileira trabalhe com mais altivez”, acrescenta.

De fato, os drones da Polícia Federal são da israelense IAI, enquanto os da FAB vieram da também israelense Elbit. Já os fuzileiros navais acabam de comprar itens de comunicação da Elbit Systems Land. E a IAI foi contratada, pelo Brasil, para transformar Boeings 767 300 ER em aviões de transporte e reabastecimento. E, por fim, pelo menos duas empresas brasileiras foram compradas por Israel: Iacit e Gespi.



Sinaval
Ariovaldo Rocha foi reeleito para o Sindicato Nacional da Construção Naval (Sinaval). Em relação a críticas externas, a entidade explicou que “não pode cercear o direito de candidatura, em suas eleições, de representantes de empresas legítimas do segmento, que serão considerados idôneos até prova em contrário. Outro fato é que ocorrências em empresas de fora do Sinaval não podem ser levadas em conta pela entidade.”
SEGURANÇA NACIONAL BLOG.SNB

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

SISFRON - ATIVAÇÃO COBERTURA FOTOGRÁFICA

Texto de Adriana Moretto
DouradosNews
O Exército Brasileiro lançou oficialmente na manhã desta quinta-feira (13), na sede da 4  [ Brigada de Cavalaria Mecanizada (4ª Bda C Mec),  Brigada Guaicurus, em Dourados (Mato Grosso do Sul), o início da operação do projeto-piloto do SISFRON (Sistema de Monitoramento de Fronteiras). Com a presença dos Comandante Militares do Exército General-de-Exército Enzo Peri, da Aeronáutica Tenente-brigadeiro-do-Ar Juniti Saito, e demais autoridades estaduais e militares.

Foi apresentada a  estrutura da central de monitoramento que foi implantada na cidade de Dourados, que é a base experimental deste que é considerado o maior investimento do Ministério da Defesa na segurança da faixa de fronteira nacional.

Somente na área de responsabilidade do CMO (Comando Militar do Oeste), que abrange 1,8 mil quilômetros de fronteira com o Paraguai e a Bolívia, cobrindo os estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás, o investimento é de R$ 900 milhões. Neste início de operação, são 600 quilômetros da fronteira em Mato Grosso do Sul que começam a ser monitorados por meio da base em Dourados. O Comandante do CMO, o General-de-Exército Aparecido de Paula Cunha garantiu que a população da região vai perceber gradativamente o trabalho do SISFRON.

“A população pode esperar melhores condições em termos de segurança porque a partir de hoje estaremos atuando juntamente com demais órgãos de segurança pública. Os resultados talvez não sejam percebidos de imediato, mas apenas com o fato de estarmos agindo já haverá preocupação dos criminosos, que terão mais dificuldades”.

O general admitiu, no entanto, que o SISFRON não é um projeto que vai ‘fechar’ a fronteira, literalmente. Estimado em R$ 12 bilhões, a implantação total do sistema em todo o país está prevista para 2017. Conforme o militar, o objetivo é “criar dificuldades” que hoje não existem na faixa de fronteira, cuja segurança atual é vulnerável à ação criminosa.

“A fronteira não vai ser literalmente fechada. O custo de violência no Brasil é altíssimo. Se nós tivermos uma efetividade de 3% o SISFRON já estará pago, mas esperamos que seja bem maior que isso. Não vamos fechar a fronteira porque isso seria impossível. Nem se fizéssemos um muro como fez os Estados Unidos com o México. O tráfico vai continuar, somente com mais dificuldades. Essa é a diminuição que vai acontecer com relação à criminalidade”.

Conforme o general a ‘sensação de segurança’ com o início da operação do SISFRON será percebida com tropas sendo integradas e fazendo postos de controle de trânsito, deslocamentos e demais ações que serão realizadas em conjunto com os demais organismos de segurança.

Para haver integração, Estado também deverá se estruturar

O comandante do Exército Brasileiro, General-de-Exécito Enzo Martins Peri, destacou durante entrevista que para haver a integração do SISFRON com os organismos de segurança pública, como o sistema propõe, é preciso haver investimento por parte do governo do Estado.

“Já existe uma integração e isso é importante para o resultado final. O SISFRON oferece uma estrutura, mas todos terão que se aperfeiçoar para chegar ao nível dele e usufruir do que o projeto oferece. Cada vez mais que isso for feito, o funcionamento vai melhorando”, destacou o general.

Presente na solenidade de ativação do Projeto-piloto os militares que fazem parte do efetivo da Brigada Guaicurus, que irão trabalhar no SISFRON, e a apresentação dos equipamentos, o secretário estadual de Justiça e Segurança Pública do MS, Wantuir Jacini, que afirmou:

“Desde o ano passado estamos trabalhando na estruturação para poder nos integrar ao SISFRON e usufruir ao máximo desse sistema e da oportunidade de trabalharmos junto no combate à criminalidade. Contratamos servidores e estamos equipando as polícias com viaturas e outras ferramentas. Sabemos da importância desse projeto e sem dúvidas o Estado está trabalhando para poder fazer ações em conjunto da melhor forma possível”, garantiu o secretário.

Durante a formatura dos militares designados ao SISFRON, o Comandante da Brigada Guaicurus, Gen Bda Rui Yutaka Matsuda, destacou o fato do projeto-piloto ter sido implantado em Dourados e foi outro a ressaltar a importância do alto investimento e o ganho que ele trará a população.

“O SISFRON é um projeto vitorioso e que vai entregar sem dúvida alguma um trabalho de grande valor para a sociedade. Neste momento estamos construindo o nosso amanhã”, disse o comandante da Brigada Guaicurus durante seu discurso.
SEGURANÇA NACIONAL BLOG.SNB

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Navios-Patrulha Oceânicos (NPO) da classe Amazonas - A História


SEGURANÇA NACIONAL BLOG.SNB

Operação Formosa 2014


SEGURANÇA NACIONAL BLOG.SNB

ARGENTINA LANÇA SATÉLITE CONSTRUÍDO NO PRÓPRIO PAÍS

 A Argentina lançou o seu primeiro satélite de comunicações construído domesticamente na quinta-feira. O ARSAT-1, que foi lançado a partir de um centro de missão na Guiana Francesa, é o primeiro da America Latina a ser construído com tecnologia local. O satélite foi construído por uma equipe de cerca de 500 cientistas ao longo de sete anos a um custo de 250 milhões de dólares e orbitará a 36.000 km acima da Terra.

SEGURANÇA NACIONAL BLOG.SNB

domingo, 9 de novembro de 2014

PF APONTA ELO ENTRE PCC E HEZBOLLAH

Francisco Leali
O Globo

BRASÍLIA - Na região de fronteira que separa Brasil, Argentina e Paraguai, a atuação de grupos ligados ao terrorismo internacional sempre foi, para as autoridades americanas, um fato incontestável. No Brasil, pelo menos oficialmente, o caso nunca foi admitido, e as declarações governamentais costumam minimizar o tema. Nos últimos anos, no entanto, os serviços de inteligência do país reuniram uma série de indícios de que traficantes de origem libanesa ligados ao Hezbollah, o "Partido de Deus", se aventuraram numa associação com criminosos brasileiros. Relatórios produzidos pela Polícia Federal apontam que esses grupos se ligaram ao PCC, organização criminosa que atua nos presídios brasileiros, principalmente nos de São Paulo.

Uma série de documentos obtidos pelo GLOBO revela que essa espécie de sociedade da delinquência começou a ser montada em 2006. Mas as provas só foram descobertas dois anos depois, quando uma operação realizada pela PF reuniu os primeiros indícios da ligação entre libaneses e a organização criminosa brasileira. Na época, envolvidos com o tráfico internacional foram presos. Segundo as autoridades americanas, o dinheiro da droga é justamente uma das fontes de financiamento de entidades terroristas. Já a PF encontrou indícios de que esse grupo de libaneses que operava com o tráfico abriu canais para o contrabando de armas destinadas à organização criminosa brasileira.
Trecho do relatório da PF destaca a aproximação do Hezbollah com traficantes brasileiros- Reprodução

Em troca, os criminosos brasileiros prometiam dar proteção a presos da quadrilha libanesa já detidos no Brasil. A notícia da associação criminosa surgiu de informante da PF. A veracidade acabou sendo confirmada pela área de inteligência, que monitorou não só os suspeitos sob investigação, como também os integrantes da facção brasileira que comandavam ações mesmo detidos em presídios federais e estaduais em São Paulo e Paraná.

Segundo relatório da PF, "a concentração de tais detentos vem auxiliando na aglutinação de indivíduos com interesses comuns, além de viabilizar o contato de traficantes de origem árabe com grupos" como a facção "com marcante presença nos estabelecimentos prisionais do estado de São Paulo". O documento diz ainda que os contatos internacionais dos traficantes libaneses "têm atendido aos interesses" da facção brasileira, "que, por seu turno, viabiliza uma situação favorável aos estrangeiros dentro do sistema prisional, além de assegurar algum lucro com negociações mesmo enquanto estão presos".

A partir de investigações e conversas com informantes que atuam na região da Tríplice Fronteira, o setor de inteligência da PF se convenceu de que os traficantes libaneses não só abriram canais para a organização criminosa obter armas no exterior, como teriam tido participação na venda de explosivos supostamente roubados pela facção brasileira. Foi identificada a participação dos traficantes libaneses na negociação de C4, um tipo de explosivo plástico que fora roubado no Paraguai. "Os libaneses em atividade criminosa, apesar de terem no tráfico de cocaína seu principal foco de atividades, também atuariam no tráfico de armas para grupos criminosos de São Paulo, sendo que, recentemente, também teriam intermediado uma negociação de explosivos (aparentemente C4, sendo também sabido que um carregamento de tal material foi subtraído no Paraguai e vem sendo vendido a preços bem baixos)", diz o relatório.

A área de inteligência da PF registrou ainda a troca de favores entre os dois grupos. Se os libaneses ajudavam no contrabando internacional de armas, a organização brasileira se encarregava de proteger os estrangeiros que já foram detidos no país. Diz documento da PF que "vários libaneses estariam estreitando suas relações" com a facção brasileira há cerca de três anos, "sendo qualificado como forte o vínculo com a referida organização criminosa, sendo constantes seus contatos". "Sabe-se, entretanto, que a ligação de libaneses estaria beneficiando mais a organização criminosa (brasileira), com poucos benefícios para os estrangeiros, embora tal situação venha sendo aceita por conveniências dentro do sistema prisional", diz um documento da PF, produzido em 2009.

As informações sobre os vínculos entre as duas quadrilhas foram compiladas depois que o governo americano passou a apontar em seus relatórios anuais de combate ao narcotráfico a participação de libaneses da Tríplice Fronteira ligados ao comércio ilegal de drogas e ao financiamento de ações terroristas. Em 2006, relatório do Departamento do Tesouro americano chegou a listar nove pessoas acusadas de ajudar a enviar recursos para o Hezbollah. Além dos nomes, o relatório apontava que a Galeria Pagé, em Ciudad del Leste, no Paraguai, vizinha da cidade brasileira de Foz do Iguaçu, era o bunker dos agentes que davam suporte financeiro ao Hezbollah. Na época, o governo brasileiro emitiu nota negando haver prova de que terroristas atuassem na região do Sul do país. Nos anos seguintes, o DEA, a agência americana de combate às drogas, reiterou a acusação.

Em 2008, dois anos após o primeiro relatório do Tesouro dos EUA, os serviços de inteligência da PF já estavam apontados para a região. O GLOBO teve acesso à parte do acervo produzido que lista prisões de libaneses, identifica remessas de drogas e confirma a perigosa associação dos libaneses com a facção criminosa de brasileiros. O trabalho de monitoramento incluiu ainda missões para vigiar estrangeiros de origem libanesa que circulavam pelas cidades de Foz, Ciudad del Leste e Porto Iguazu, na Argentina.

Os documentos reúnem desde listas de nomes e períodos de hospedagens em hotéis até registros de um suposto risco de atentado terrorista no Brasil. No dia 28 de agosto de 2008, relatório de inteligência assegura que recebeu informe de "fonte não comprovada" de que um estrangeiro "integrante de uma organização terrorista" estaria viajando para Brasília para executar plano de assassinato. Há ainda a descrição de ações na Ponte da Amizade, na fronteira entre Brasil e Paraguai. Em fevereiro de 2008, por exemplo, policiais pararam um veículo em que estavam o libanês Mostapha Hamdan e o sírio naturalizado paraguaio Farouk Sadek Abdou. Esse último, pouco antes de ser abordado tentou destruir um papel onde havia 17 números de telefones.

Em abril do mesmo ano, mais uma vez a área de inteligência disparou alerta. Desta vez, sobre atuação da facção criminosa brasileira no Paraná. Havia suspeita de que armas contrabandeadas do Paraguai seriam usadas no resgate do preso Leandro Antonio, conhecido como Chacal. As autoridades locais foram alertadas, e a PF se encarregou de distribuir fotos e nomes dos possíveis envolvidos na operação.
SEGURANÇA NACIONAL BLOG.SNB

PCC-HEZBOLLAH : LIBANÊS É APONTADO PELOS EUA COMO COORDENADOR DO HEZBOLLAH NO BRASIL

Francisco Leali
 
BRASÍLIA - O comerciante Farouk Abdul Hay Omairi anda pelas ruas de Foz do Iguaçu (PR) sem ser notado. Parece ser apenas mais um morador de origem árabe. Seguidor de costumes muçulmanos, sua mulher usa véu. Os filhos estão sempre por perto. E quase todos tentam ajudar o pai a remontar seu negócio, uma agência de viagens. A empresa ia bem até junho de 2006. Foi quando veio a público comunicado do Departamento de Tesouro dos Estados Unidos sobre a rede de financiamento do Hezbollah na Tríplice Fronteira. Nove nomes foram listados. Farouk Omairi estava entre eles.
Segundo o texto, o libanês, que tinha 61 anos e vivia no Brasil, era ligado ao tráfico internacional de drogas. Farouk seria ainda mais perigoso: foi apontado como o principal membro do Hezbollah na região. Uma espécie de coordenador da comunidade. Farouk era a "figura-chave" para obtenção de documentos falsos, tanto no Brasil como no Paraguai, que eram usados nas requisições de naturalização nos dois países.
Naquele mesmo 2006, a Polícia Federal abriu inquérito no Brasil. Mas o caso era apenas envolvimento com narcotráfico. No ano seguinte, o libanês, que fala francês e árabe fluentemente, foi preso por ordem judicial. Era a Operação Camelo, da PF. O filho Kaled Omairi também foi detido. Outro filho, Ahmad, menor de 21 anos, fugiu.
Os três da família Omairi foram condenados por associação para o tráfico internacional. Farouk pegou 12 anos de prisão, e foi parar, ao lado de Kaled, no presídio federal de segurança máxima de Campo Grande. Na época, estava no mesmo presídio o traficante Fernandinho Beira-Mar.
O envolvimento de Farouk com o financiamento do terrorismo chegou a ser citado no processo, mas não se transformou numa acusação formal. Mesmo assim, o setor de inteligência da PF tratou de monitorar a vida do libanês. Os policiais se mantinham informados sobre quem visitava Farouk na cadeia federal, quando e quantas vezes.
Relatório de inteligência lista encontros dele com advogados e parentes em Campo Grande. Hora e duração das conversas foram registradas e repassadas para a área de inteligência da PF. Oficialmente tratado apenas como um traficante que cumpria pena, Farouk teve direito a passar para o regime semiaberto e, em 2012, ganhou as ruas no regime aberto, sendo obrigado a se apresentar regularmente à Justiça.
Recentemente, seus advogados pediram autorização para que ele possa cruzar a Ponte da Amizade e ir ao Paraguai. A alegação é que Farouk precisa tocar os negócios de turismo, o que não poderia ser feito sem idas ao país vizinho. O advogado Oswaldo Loureiro de Mello Júnior diz que Farouk prefere não falar sobre as acusações.
- Isso é propaganda negativa para ele. Seria levantar a poeira que está assentando, e ele quer recuperar a empresa - diz o advogado. - Aquela história foi um inferno na vida dele.
Mello Júnior sustenta que o cliente sempre negou qualquer ligação com o Hezbollah, nem teve coragem de se aproximar de outros presos na cadeia:
- Ele pode até ser um criminoso (por conta da condenação por tráfico), mas não é um vagabundo. Usa camisa Lacoste, frequenta restaurantes, fala outras línguas, é um homem comum que não ia se meter com preso de facção.
Publicidade
O advogado ainda alega que Farouk só foi denunciado porque uma mulher com quem manteve relacionamento o delatou às autoridades. A agência de viagens do libanês foi usada para emitir passagens internacionais para pessoas que, mais tarde, foram presas por envolvimento com narcotráfico. No processo, ele é citado como sendo responsável pela montagem de esquema de envio de "mulas", pessoas contratadas para levar drogas à Europa e à Jordânia. Mello Júnior sustenta que o cliente emitiu passagens, mas sempre negou ter ligação com remessa de cocaína ao exterior.
O filho Ahmad Omairi até hoje é considerado foragido da Justiça, e a defesa ainda conta que o crime dele pode prescrever porque, na época dos crimes, tinha menos de 21 anos.
- Ahmad está em outro país - diz o advogado.
SEGURANÇA NACIONAL BLOG.SNB