terça-feira, 14 de maio de 2013

Na Rússia será desenvolvido programa de armas hipersônicas

Oleg Nekhai
VOZ D RU

Um programa de criação de armas hipersônicas será preparado na Rússia até o início de junho. São mais de 60 empresas que participam na elaboração deste. Trabalhos relativos a mísseis hipersônicos haviam sido conduzidos ainda na altura de existência da União Soviética.

Em 2009, as pesquisas nesta matéria foram retomadas por encargo do Ministério da Defesa da Rússia.
Trata-se de um programa integral especial destinado à criação de armas hipersônicas. A entidade principal incumbida de levar a efeito os trabalhos do projeto é a corporação de Armamentos de Mísseis Táticos. Na Rússia, o desenvolvimento do hipersom não constitui algo conceitualmente novo, pois as pesquisas neste domínio foram realizadas ainda no século passado, assinala o editor-chefe do jornal Nezavisimoye Voyennoye Obozreniye (Resenha Militar Independente), Viktor Litovkin:
"Na época soviética, havia projetos muito promissores, mas devemos nos dar conta de que passou bastante tempo. Aqueles projetos ficaram tão só projetos, porquanto não havia dinheiro para sua materialização. Aliás, não havia também necessidade especial para tal... Mas presentemente, quando no Ocidente está sendo desenvolvido este tipo de armamentos, não podemos permanecer de braços cruzados, porque em determinadas circunstâncias estas armas poderiam ser dirigidas contra nós. Por isso, devemos criar algo nosso, utilizando a experiência dos desenvolvimentos realizados antes da década de 1990. Naturalmente, dali passaram mais de vinte anos, durante os quais apareceram novos materiais, software e equipamentos eletrônicos do hardware, assim como novos conceitos de criação de armamentos – tudo isso vamos tomar em conta".
De acordo com estimativas de especialistas, os mísseis hipersônicos poderão desenvolver uma velocidade incrível – dez ou mesmo mais vezes maior da do som (1.200 km/h). Semelhantes armas não são destinadas à defesa antimísseis, mas sim à superação desta, especifica o vice-diretor do Instituto de Análise Política e Militar, Alexander Khramchikhin:
"São armas de ataque, não são de defesa antiaérea nem antimísseis. Sua vantagem consiste, antes de mais nada, em grande velocidade. Se tais armas estão sendo criadas, é pouco provável que alguém possa controlar quais ogivas seriam instaladas neles. Embora, no fundo, devido a alta velocidade, esse armamento possui tal energia cinética que não necessita, em princípio, de portar ogivas nucleares nem mesmo convencionais, podendo destruir alvos precisamente pela energia do golpe".
Sabe-se que os EUA estão efetuando desenvolvimentos em matéria de armas hipersônicas, o que lhes abre uma perspectiva de criarem um míssil multifuncional antes de 2015 ou 2018. A Rússia não vai procurar ultrapassar os EUA para criar este tipo de armas antes de 2015 ou 2016, esclarece Viktor Litovkin:
"Ainda não é um fato consumado que os EUA teriam, para 2015, armas hipersônicas capazes de funcionar. E não se trata simplesmente das armas mas sim dos sistemas de armamentos. Pois, os elementos de armas não integrados em sistemas são incapazes, hoje em dia, de desempenhar qualquer papel no campo de batalha. Por exemplo, o avião dotado de tal míssil tem um maior potencial. Enquanto o míssil desprovido de veículo portador não tem potencial algum, se não pode ser lançado a partir de um bombardeiro de grande alcance ou um submarino. Devem existir sistemas integrados de armamentos – não só portadores dessas armas mas também sistemas de controle e de detecção de alvos, para além de muitos outros componentes que fazem parte do conceito de sistema de combate. Por isso, vamos criar nossos próprios sistemas de armas hipersônicas".
Ora, os especialistas russos defrontam-se com um desafio nada fácil de realizar. No entanto, o programa especial a ser elaborado determinará os pontos de referência exatos para o trabalho simultâneo em várias direções. Desenvolvimentos neste domínio possibilitarão criar sistemas de armas com propriedades conceitualmente novas.
SNB

Congresso analisa maior projeto de astronomia do Brasil


Herton Escobar - O Estado de S.Paulo
O maior projeto da história da astronomia brasileira está nas mãos do Legislativo. Dois anos depois de ter sido assinado pelo ex-ministro da Ciência e Tecnologia Sergio Rezende, o acordo de adesão do País ao Observatório Europeu do Sul (ESO) chegou ao Congresso para ratificação.
O ESO é o maior consórcio de pesquisa astronômica no mundo, formado por 14 países europeus, com vários telescópios e radiotelescópios de última geração instalados no topo dos Andes Chilenos. O contrato de adesão, no valor de R$ 565 milhões em dez anos, faria do Brasil o primeiro membro de fora da Europa e daria a astrônomos brasileiros acesso pleno a todas as instalações do grupo, além de permitir a participação do País na construção do maior telescópio no mundo, o Telescópio Europeu Extremamente Grande (E-ELT), prevista para começar no fim deste ano.
"O encaminhamento do acordo ao Congresso Nacional reafirma o apoio dado pelo governo brasileiro ao setor de astronomia no Brasil", afirma o secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luiz Elias, em uma carta enviada à presidência da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) em 18 de março.
O projeto foi encaminhado pela Casa Civil ao Congresso há mais de dois meses, em 19 de fevereiro, mas isso não foi anunciado publicamente. O texto deverá passar por quatro comissões no Congresso. A primeira é a de Relações Exteriores e Defesa Nacional, na qual o deputado Emanuel Fernandes (PSDB-SP) atuará como relator. Não há prazo específico para que o Brasil ratifique o acordo, mas o cronograma de construção do E-ELT exigirá agilidade dos parlamentares, caso o Brasil queira fazer parte do projeto - não apenas como usuário científico, mas como construtor e fornecedor de tecnologia. O projeto é orçado em $ 1 bilhão.
O acordo é polêmico. A maior parte da comunidade científica o apoia, mas há pesquisadores que consideram o projeto caro demais, desigual e até desnecessário para a astronomia nacional, que já tem acesso (direto ou via colaboração) a esses e outros telescópios de ponta.
Para os defensores da adesão, é uma oportunidade que o Brasil não pode perder. "A adesão do Brasil ao ESO nos colocará no topo das pesquisas em astronomia no planeta, assegurando-nos ao mesmo tempo participar em colaborações científicas e industriais avançadas, com grandes vantagens para o País", diz a presidente da SAB, Adriana Válio, do Centro de Radio Astronomia e Astrofísica Mackenzie, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
"É impossível ser competitivo com acesso a pouquíssimos instrumentos - e a maioria de baixa performance - como é essencialmente a nossa situação atual", diz a pesquisadora Beatriz Barbuy, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo.
SNB

Avião mineiro ‘Bumerangue Ex-27’ tem motor e hélice na traseira


FRANCA - Um avião diferente chamado 'Bumerangue Ex-27' sobrevoou Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, na segunda-feira, 13. Desenvolvido com o apoio de profissionais das universidades Federal de Minas Gerais (UFMG) e Federal de Uberlândia (UFU), a aeronave tem o motor e a hélice na parte traseira.
Em fase final de testes, o Bumerangue tem condições de voar por até quatro horas sem abastecimento, em um trajeto de cerca de dois mil quilômetros. Quando entrar em produção, deverá custar cerca de US$ 250 mil.

A aeronave começou a ser desenvolvida há seis anos pela Fábrica Brasileira de Aeronaves (Fabe), empresa sediada em Uberlândia. Para poder ser comercializado, o Bumerangue precisa completar 500 horas de voo.
Com capacidade para quatro passageiros, o protótipo recebeu o prêmio de primeiro lugar na categoria Aeronave Experimental ao ser lançado na Expo Aero Brasil.

De acordo com o empresário Douglas Cunha, da Fabe, o avião é o mais rápido da categoria e também o de melhor custo benefício no País.
Equipado com paraquedas balístico, trem de pouso retrátil e piloto automático, o aparelho já está em fase final de ensaios em voo e a próxima etapa será um programa de apresentação em todo o território nacional. "A partir daí começa a captação das intenções de compra para o início da linha de produção", explica o empresário.
 especial para o Estadão....SNB

A guerra dos aviões sem piloto


O Estado de S.Paulo
Esta semana, a Marinha lançará um drone (avião não tripulado) de combate inteiramente autônomo - sem nenhum piloto no joystick - do convés do porta-aviões George H. W. Bush. O drone tentará pousar a bordo do navio, uma façanha que poucos pilotos humanos são capazes de realizar.
Esse exercício é o começo de um novo capítulo da história militar: a guerra de drones autônomos. Mas é também uma virada nefasta numa rivalidade militar potencialmente perigosa que está sendo formada entre os Estados Unidos e a China.
O X-47B, um avião invisível apelidado de "Robot" (Robô) pelos marinheiros, é um pássaro grande - 11,4 metros de comprimento e cerca de 19 metros de envergadura - que voa em velocidades subsônicas com um alcance de mais de 3.200 quilômetros. Mas é a tecnologia no interior do Robot que faz dele um elemento capaz de mudar o jogo no Leste Asiático.
Sua decolagem, combate e pouso completamente computadorizados criam a possibilidade de haver dezenas ou centenas de seus sucessores engajados num combate ao mesmo tempo.
Ele também é capaz de suportar níveis de radiação que matariam um piloto humano e destruiriam a eletrônica de um jato normal. Além de bombas convencionais, sucessores desse avião de teste poderão ser equipados para carregar um micro-ondas de alta potência, um dispositivo que emite um feixe de radiação capaz de fritar redes elétricas de um inimigo tecnologicamente equipado, destruindo todas as coisas a elas conectadas, entre as quais as redes de computadores que conectam satélites, navios e mísseis de precisão.
E essas, é claro, estão entre as principais coisas nas quais a China investiu durante sua modernização militar. Enquanto a Marinha dos Estados Unidos lança um drone autônomo, a Marinha chinesa brinca de esconde-esconde com um voo pilotado do convés de um porta-aviões.
Em novembro, a Marinha chinesa pousou um caça a jato J-15 no convés do porta-aviões Liaoning, o primeiro do país.
Embora a China ainda tenha um longo percurso para desenvolver uma frota de porta-aviões que rivalize com a dos Estados Unidos, o pouso revela suas ambições.
Com quase 500 mil marinheiros e aproximando-se rapidamente de 1 mil embarcações, sua Marinha já é, por certos parâmetros, a segunda maior do mundo.
Com essa nova Marinha, Pequim pretende projetar seu poder a uma série de cadeias de ilhas no Pacífico: a primeira se estende ao sul da Península Coreana, na costa oriental de Taiwan, contornando o Mar do Sul da China, e a segunda vai do Japão para sudeste até as Ilhas Bonin e Marshall, abarcando as Ilhas Marianas do Norte, um território dos Estados Unidos, e Guam - uma base americana crucial no Pacífico ocidental.
Alguma literatura não oficial dos militares chineses chega a mencionar uma terceira cadeia: as Ilhas Havaianas.
Para projetar esse tipo de poder, a China depende não só da quantidade de seus navios, mas também da qualidade de sua tecnologia.
Manter os americanos a meio oceano de distância requer a capacidade de ataques de precisão de longo alcance - o que, por seu lado, requer o reconhecimento por satélite, guerra cibernética, comunicações codificadas e redes de computadores em que a China investiu quase US$ 100 bilhões na última década.
Idealmente para ambos os países, os esforços da China criariam um novo equilíbrio de poder na região. Mas para compensar a vantagem numérica e os avanços tecnológicos da China, a Marinha dos Estados Unidos está apostando pesadamente em drones - não somente os X-47B e seus sucessores, mas drones de reconhecimento antissubmarinos, drones de comunicações de longo alcance, até drones submarinos.
Uma simples combinação de um drone de reconhecimento Triton e um avião antissubmarino tripulado P-8A Poseidon pode varrer 6,7 milhões de quilômetros quadrados de oceano numa única missão.
Corrida pela tecnologia. A corrida armamentista entre as maiores Marinhas do mundo compromete a possibilidade de se chegar a um novo equilíbrio de poder, e eleva a possibilidade de colisões inesperadas à medida que os Estados Unidos mobilizarem centenas e até milhares de drones e a China procurar maneiras de fazer frente ao novo desafio.
E os drones, por serem mais baratos e dispensarem um piloto humano, baixam as barreiras a um comportamento agressivo por parte dos líderes militares americanos - como farão com a Marinha da China tão logo ela faça sua própria e inevitável investida nas capacidades de drones (aliás, há relatos da semana passada de que a China está preparando seu próprio drone invisível para testes de voo).
Por si mesmas, as rivalidades navais não desencadeiam guerras. Em tempos de paz, aliás, as operações navais são uma forma de diplomacia que oferece a rivais exibições saudáveis de força que servem como elementos de dissuasão de uma guerra. Mas elas também precisam ser cercadas de relações políticas maiores.
No momento, a relação Estados Unidos-China é, sobretudo, no plano econômico. Enquanto essa relação permanecer vibrante, um confronto não é do interesse de nenhuma das partes. Mas se esse elo fino se partir restará pouca coisa de uma relação política maior, para não falar de uma aliança, para ocupar seu lugar.
A única barreira entre crise e conflito, então, seriam duas Marinhas ainda maiores e mais perigosas preparadas para travar um tipo de guerra com base em aviões não tripulados que ainda não compreendemos completamente e, por isso, somos mais propensos a enveredar por uma delas. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
SNB

segunda-feira, 13 de maio de 2013

O contrabandista número 1


JOSHUA E., KEATING, FOREIGN POLICY - O Estado de S.Paulo
Um dos episódios mais infames da sangrenta revolta ocorrida após a disputada eleição no Zimbábue de 2008 foi o do chamado "navio da vergonha" - um cargueiro chinês descoberto transportando armas de pequeno porte, granadas lançadas por foguetes e morteiros para o assediado regime de Robert Mugabe. Os países vizinhos não permitiram que o navio ancorasse em seus portos, mas o incidente apenas reforçou a percepção de que a China havia se tornado negociante de armas para os mais brutais bandidos da África, fossem tiranos como Mugabe ou o ditador genocida do Sudão.
Mas essa imagem não está inteiramente justa: sobre venda de armas para regimes suspeitos, os Estados Unidos ainda ocupam decididamente o primeiro lugar.
Numa recente pesquisa para o International Studies Quaterly, os cientistas políticos Paul Midford e Indra de Soysa analisaram as remessas de armamento chinês e dos Estados Unidos para a África de 1989 a 2006, utilizando dados coletados pelo Stockholm International Peace Research Institute. E concluíram que não havia nenhuma correlação estatística entre a China e os regimes que ela supria com armas, enquanto os carregamentos de armas dos Estados Unidos estavam levemente correlacionados - e de maneira negativa - com a democracia. Em linguagem clara, a China tinha menos probabilidade de vender armas para ditadores do que os americanos.
"Não significa que a China está ali para fazer o bem. Os chineses estão defendendo seu interesse nacional", afirmou Midford. "Mas não encontramos nenhuma evidência de que eles estão tentando difundir um 'consenso de Pequim' ou promover regimes que são especificamente autocráticos".
O estudo se concentrou na África, mas preocupações no campo dos direitos humanos também foram levantadas com relação às armas enviadas pelos Estados Unidos para autocracias do Golfo Pérsico, como Arábia Saudita, Bahrein e Emirados Árabes Unidos, que, coletivamente, contribuíram para o salto de mais de 300% nas vendas de armas americanas em 2011, em meio às crescentes tensões com o Irã.
Midford sublinhou que o objetivo do estudo não foi sugerir que os Estados Unidos preferem vender armas para ditadores. "Os Estados Unidos decidiram apoiar autocratas por razões geopolíticas, assim como a China", afirmou. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
SNB

Aviões-robô buscam o mercado civil


Fabricantes brasileiros de veículos aéreos não tripulados esperam regulamentação da Anac para poder vendê-los para uso comercial e garantir sua sobrevivência
SÃO PAULO – Eles são aviões ou helicópteros sem piloto e com computador de bordo. Vêm em vários tamanhos e pesos. São ideais para serviços monótonos, perigosos ou caros demais quando realizados por humanos. Podem ser chamados de drones – termo difundido no exterior – ou pelo nome usado no Brasil: vant (veículo aéreo não tripulado).No noticiário, os drones ou vants aparecem quase sempre em um contexto bélico, como os que são usados em missões americanas no Paquistão e Afeganistão. No Brasil, drones já fazem parte de operações da polícia e das Forças Armadas.
Mas agora cresce o número de vants que podem ser aplicados em atividades civis como resgate, agricultura, mineração, construção civil, energia e segurança. O potencial é imenso. Um estudo britânico calcula que, em quatro anos, os equipamentos devem criar um mercado de US$ 400 bilhões. Não à toa, novas empresas de tecnologia já têm projetos na área.
Alguns são pequenos como um inseto e cabem na palma da mão. Modelos maiores podem chegar a 25 quilos (na área militar, há vants do tamanho de um avião pequeno).
No Brasil, existem 12 fabricantes. Muitos deles fornecem equipamento para as Forças Armadas e a polícia. Grande parte quer expandir as vendas para clientes civis, mas esbarra em um entrave: a falta de regulamentação para o uso comercial por parte da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
“A indústria local tem produto, está montada, tem capacitação, mas não pode fazer operação comercial”, diz Antônio Castro, coordenador do comitê de vants da Associação Brasileira de Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde). Para ele, a demora põe as empresas em risco.
Ulf Bogdawa, sócio da fabricante de vants gaúcha SkyDrones é um dos que apostam no potencial comercial dos equipamentos. “A única maneira de sobreviver é vender para o mercado civil”, diz ele. “Nessa falta de compasso entre tecnologia e legislação, as empresas estão numa sinuca.”
A Anac não proíbe o uso comercial, mas empresas interessadas precisam obter autorização por meio de um requerimento oficial à agência, que avalia a segurança do projeto. Castro, da Abimde, diz que até hoje somente a Polícia Federal obteve a aprovação.
Por meio de sua assessoria, a Anac informou que “existem estudos” para uma regulamentação do uso comercial dos vants. A agência informou também que os critérios são discutidos com outros países por motivos de segurança e também para “dar competitividade” à indústria brasileira.
Para Castro, a Anac tem demonstrado “boa vontade”, realizando reuniões com empresários. Rodrigo Kuntz, sócio da BRVant, fabricante de Mogi das Cruzes (SP), diz que os encontros servem para “a indústria nacional entrar em forma”. Para o empresário, há companhias que não entenderam a diferença entre aeromodelismo e vants e fazem equipamentos adaptados de modelos chineses inferiores.
As principais normas que o setor gostaria de ver definidas são as categorias de veículos, de acordo com peso de decolagem (vants de uso civil têm até 25 quilos), e regras de operação para cada uma delas.
“Quem opera precisa ter formação específica e certificação de acordo com o equipamento que vai dirigir”, diz Adriano Kancelkis, sócio da AGX, fabricante de vants de São Carlos (SP) que tem 35 funcionários.
Os vants podem ser aliados da chamada agricultura de precisão. Um dos possíveis usos é o mapeamento de plantações afetadas por ervas daninhas. Depois, a aplicação de herbicida pode ser efetuada pelos vants apenas nos locais necessários. Numa plantação de soja, o aparelho pode identificar plantas menos nutridas e aplicar fertilizante isoladamente.
A inspeção de linhas de transmissão elétrica é outro trabalho que pode ser facilitado. “A Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) tem 30 mil quilômetros de linhas, cuja inspeção é obrigatória. Hoje, ela é feita com helicóptero, que custa R$ 3 mil a hora de voo”, diz Castro.
Os preços de vants variam entre R$ 30 mil a R$ 300 mil, conforme o tamanho. Os menores funcionam com bateria elétrica e os maiores geralmente têm motor de combustão.
ESTADO DE S PAULO ...SNB

domingo, 12 de maio de 2013

Marinha testa combustível nuclear na Noruega


ROBERTO GODOY - Agência Estado
Os dias são frios e claros na pequena cidade de Halden, no sul da Noruega - menos este ano, na primavera. No dia 10 de março, um domingo, a manhã ficou subitamente nublada no antigo condado de 3 mil anos. E no severo Instituto de Tecnologia da Energia, o IFE, outro fato incomum: o combustível nuclear que vai abastecer o submarino atômico brasileiro funcionou pela primeira vez - como vai funcionar em 2023, quando o navio já estará construído. "Foi emocionante", define o comandante André Luis Ferreira Marques, do Programa Nuclear de Marinha (PNM).
A façanha dos especialistas saídos de Iperó, na região de Sorocaba, distante 130 quilômetros de São Paulo, não é pequena. "O ensaio científico é sofisticado e exige qualificação impecável da equipe envolvida", destaca o oficial. O grupo, ligado ao Centro Aramar, preparou o teste durante três meses - embora certas providências e decisões tenham sido tomadas até um ano antes disso. A escolha dos laboratórios de Halden tem a ver com o fato de o Brasil não dispor, ainda, de um bom reator de pesquisa. Só agora o governo federal está providenciando a construção do modelo nacional, destinado a atender necessidades médicas, do setor agrícola e de energia.
Outro fator determinante, é a atitude do governo norueguês em relação ao PNM, identificado em Oslo como "estritamente pacífico", logo, com acesso ao complexo de experiências e provas.
Para realizar a "qualificação técnica do combustível nuclear", o nome oficial do exame, foi preciso negociar a compra do urânio a ser utilizado. A aquisição foi feita pela Noruega: um lote pequeno, de 20,2 gramas. O Brasil domina o ciclo do combustível e, sim, tem o material estocado. Todavia, a legislação exige que toda movimentação, saída e entrada no País, seja autorizada pelo Congresso.
A quantidade era pequena e a pressa era grande, uma boa justificativa para o recurso destinado a superar a dificuldade burocrática.
A pastilha de urânio foi desenhada e produzida de acordo com as especificações definidas no CTMSP, o restrito Centro Tecnológico da Marinha, que funciona agregado à Universidade de São Paulo (USP) e mantém o núcleo Aramar, em Iperó. "É um conhecimento limitado, que está sendo desenvolvido no Brasil faz 34 anos", explica Ferreira Marques. O comandante não estava em Halden, no dia da verificação. Acompanhou o ciclo por meio de relatórios eletrônicos, transmitidos pela equipe.
Fórmula 1. Os resultados do teste revelaram que o combustível nuclear poderia fazer o submarino de 100 metros e 4 mil toneladas mergulhar além dos 350 metros, navegar com agilidade esperada e a velocidades na faixa de 50 km/hora. "O combustível de um reator do tipo usado em usinas de geração de energia, trabalha como um caminhão, pesado e forte - o produto criado para abastecer o propulsor de um submarino é um Fórmula 1; rápido, crítico, de respostas imediatas e alto desempenho", diz o comandante Marques, para quem "todas as metas foram atingidas, e sob condições reais de operação".
O programa da Marinha avança rapidamente. No Centro Aramar o cronograma apertado corre de forma integrada com o do Pro Sub, focado na construção, em Itaguaí, no litoral sul do Rio de Janeiro, de um estaleiro, uma base, e o primeiro lote de novos submarinos, quatro convencionais diesel-elétricos, e um de propulsão nuclear. A execução está contratada com a Odebrecht Defesa e Tecnologia (ODT), associada com a para-estatal DCNS, da França, parceira na transferência de tecnologia. Ambos os empreendimentos, o PNM e o Pro Sub, vão receber, ao longo desse ano, R$ 2,5 bilhões. O dinheiro virá do PAC Equipamentos, o Programa de Aceleração do Crescimento que cobre setores da Defesa.
Nos 90 mil metros quadrados que integram a área de Aramar, acabou a fase em que o local era tratado como Sítio da Marinha e, sem dinheiro, as atividades eram limitadas apenas à manutenção dos prédios e à produção lenta das ultracentrífugas, as máquinas que transformam o urânio energeticamente "pobre" no elemento do tipo "rico", mais vigoroso e adequado à alimentação de reatores (para movimentar navios, o enriquecimento fica no limite de 4%, o padrão do Brasil; para armas, o índice é superior a 90%; o processo nacional é permanentemente inspecionado por agências internacionais).
Depois da entrega da Usina de Gás, a Usexa, em 2012, todas as prioridades estão concentradas na obra do LabGene, o Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica. É um conjunto de onze prédios, cinco dos quais ancorados diretamente na rocha de base, capazes de resistir a terremotos, tornados e inundações. Neles, serão exercidas as atividades com elementos radioativos. O LabGene implica o maior contrato do sistema - vai custar R$ 220 milhões. O PNM consumiu, desde 1979, cerca de US$ 1,6 bilhão. Virtualmente suspenso na administração de Fernando Collor de Mello, voltou a atividade em 2007, por decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O valor destinado até 2015 é de R$ 1.040 bilhão em 7 parcelas atualizadas.
Com isso, o LabGene estará pronto para operar em 2016. No conjunto, em meio ao cerrado, a Marinha vai aprender coisas importantes como a montagem e a troca das varas de combustível - e também a técnica de integração entre o reator e sua célula, no navio. A longo prazo o ProSub é ambicioso. Prevê, até 2047, uma frota formidável, com seis submarinos nucleares e 20 convencionais - 15 novos e mais cinco outros revitalizados. O custo estimado de cada navio atômico passa pouco dos 550 milhões. O primeiro sairá por 2 bilhões, consideradas a transferência da tecnologia, e a capacitação do País para projetar essa classe de embarcação militar.
SNB