quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Itália e Brasil no topo da lista de parceiros potenciais para o FX da Turquia

Por Bekdil Gee Burak e Enginsoy Umit


Publicado em: 23 de janeiro de 2011





Ancara - As autoridades turcas estão em busca de parceiros estrangeiros para ajudar a construir o primeiro caça a jato do país e provavelmente deve iniciar conversações com a Alenia Aeronautica da Itália com a Embraer do Brasil, disseram altos funcionários da área de compras familiarizado com o programa FX turco.



"Esperamos que a TAI, a empresa aeroespacial turca, abra negociações com ambos os fabricantes ainda este ano", disse um funcionário da área de compras. "Em 2012 nós já vamos saber com quem nós vamos pegar a estrada."



O governo pediu à companhia aeroespacial nacional Turkish Aerospace Industries (TAI), para estudar como essa parceria poderia funcionar. A TAI ainda receberá US$ 20 milhões do escritório nacional de compras, ou da Subsecretaria da Indústria de Defesa (SSM), para produzir um "desenho conceitual" para um avião de caça que venha a ser construído depois de 2020.



Nos últimos anos, a iniciativa da Turquia na direção de fazer uma maior fatia dos seus sistemas de armas de ponta de linha tem produzido diversos programas nacionais para atender à sua Força Terrestre e à Marinha. O esforço FX tem como objetivo ampliar o poder aéreo turco de uma maneira cada vez mais independente da tecnologia americana, disseram analistas e funcionários aqui.



Em dezembro passado, o ministro da Defesa Vecdi Gonul disse que a Turquia iria desenvolver e fabricar seus próximos aviões de combate aéreo, por si só ou em cooperação com outro país.



Gonul disse que a Turquia poderia cooperar com a Coreia do Sul, mas indicou que essa não é uma forte possibilidade.



Autoridades da defesa turca disseram que a "opção coreana" fracassou porque Seul insistiu em assumir uma maioria esmagadora no esforço do novo avião.



Se implementado, o programa destina-se a dar à Turquia poder aéreo equivalente à sua frota presente e futura, que são feitos nos EUA.



A Força Aérea turca agora opera caças F-16 e F-4s. A Turquia também é um parceiro no consórcio Joint Strike Fighter (JSF), que está construindo o avião de caça furtivo F-35 Lightning II.



Ancara pretende comprar cerca de 100 F-35 aeronaves no valor de quase US $ 15 bilhões. Muitas empresas turcas são membros do consórcio JSF de nove nações ocidentais, e estão produzindo peças para estas aeronaves. A Turquia também vai receber 30 modernos caças F-16 Block 50 da Lockheed Martin, o mesmo fabricante do F-35, como um paliativo até que se iniciem as entregas do F-35 em torno de 2015.



Funcionários disseram que o novo caça da Turquia "seria um modelo de próxima geração, que substituiria os antigos F-4Es, feitos nos EUA, e que operaria bem com o F-16 e com o F-35."



Eles confirmaram a nova aeronave na maior parte seria primáriamente destinada ao combate ar-ar. O F-4Es são caças ar-ar, enquanto o F-16 e F-35 são projetados principalmente para operações ar-terra.



A atual frota turca de quase 90 aviões F-4 foi modernizada conjuntamente por Israel e Turquia, ficando praticamente fora do controle operacional dos EUA. Mas esses caças da era do Vietnã terão que ser retirados de serviço até 2020.



"O que a Turquia , aparentemente, pretende é ter um poder aéreo parcialmente independente dos controles operacionais EUA", disse um analista turco que pediu para não ser identificado. "A nova aeronave diferentemente do F-16 e F-35s irá servir a este objetivo estratégico. Os turcos estão buscando uma abordagem em duas vertentes: mantendo tanto uma linha dos EUA e outra nacional; EUA, com o upgrade F-16 e a introdução do F-35s, e a nacional com o programa FX. "



O programa FX significa que a Turquia abrirá definitivamente mão de comprar um dos caças europeus. Em dezembro, Gonul descartou qualquer possível aquisição do avião de caça Typhoon construído pelo consórcio Eurofighter.



Mas os funcionários da contratação turco, no entanto, manifestaram a disposição para conversações com a Alenia Aeronautica, uma das parceiras do programa Eurofighter, em negociações separadas visando o caça turco, juntamente com a Embraer.



"Entendemos que ambas as empresas como parceiros adequados para o nosso programa de compra [do caça] nacional ", disse o funcionário da área de aquisições governamentais.

O Mundo da Legião

Um jovem Legionário Brasileiro, da companhia “Les Aigles” (as águias), do 2º Regimento de Engenharia (Régiment Étranger du Génie), servindo na Legião Estrangeira Francesa, na Base de Operações Tagab-Kutschbach, perto de Tagab, no Afeganistão.






A Legião Estrangeira foi criada em 1831, como uma unidade para voluntários estrangeiros, porque estava proibido recrutar estrangeiros no Exército Francês depois da Revolução de 1830.



Foi utilizada principalmente para proteger e estender o império colonial francês durante o século XIX, mas também tomou parte em todas as guerras feitas pela França incluindo as européias como a Guerra franco-prussiana e nas duas Guerras Mundiais.



A pesar de ser considerada um anacronismo, por muitos, a Legião Estrangeira tem persistido como parte importante do Exército Francês. Sobreviveu a três Repúblicas, um Império, duas Guerras Mundiais, o início e fim do sistema de conscrição, o desmantelamento do Império Colonial Francês a perda do seu berço de origem a Argélia.



A Legião Estrangeira Francesa é conhecida por ser uma unidade militar de elite, treinada não somente nas habilidades militares tradicionais, mas com um forte “esprit de corps” entre seus membros. Como os soldados vêm de países diferentes, com culturas diversas, isto reforça os laços para trabalhar como uma equipe.



Os treinamentos e instruções são descritas muitas vezes como “brutais”, não só pela demanda física como extenuantes no campo psicológico. Isto leva a uma alta taxa de deserção, em especial nas primeiras etapas do legionário. A Legião se defende afirmando que a guerra também é brutal. O fato é de que o Legionário entra em combate mais de uma vez no seu período de 5 anos de serviço.



No passado , a Legião constituiu uma via de escape para criminosos, aventureiros e aqueles que querem mudar de vida. Ainda hoje aceita recrutas com identidades falsas. Porém são investigados para evitar a entrada de criminosos fugitivos da justiça, porém não se importa se possuem antecedentes. Assim a Legião Estrangeira tem uma aura de romantismo, que a converteu em um ícone do cinema e da literatura.



As fotos deste ensaio mostram Legionários provenientes dos mais diferentes recantos do mundo. Lutam a mando da frança no Afeganistão, como também no Congo. Ou em qualquer outro local que forem designados.



Seguidamente a redação de DefesaNet recebe pedidos de jovens brasileiros de como entrar na “Legião”. Talvez um destes seja o brasileiro mostrado neste belo ensaio do fotógrafo Joel SAGET da Agência AFP

Legionário Chinês








Legionário Francês - Sim também há franceses na Legião além dos oficiais



Legionário Indiano - lembrar as tropas gurkhas dos Ingleses



Legionário Irlandês






Legionário Russo


Índia celebra o Dia da República com desfile militar

Um contingente do exército indiano do regimento de infantaria Sikh Light marcha durante o desfile do Dia da República em Nova Délhi - Foto APTanques do exército indiano passam durante o desfile do Dia da República com o Palácio Presidencial ao fundo em Nova Délhi - Foto AFP



O primeiro-ministro indiano Manmohan Singh acena para a multidão enquando assiste as celebrações do Dia da República em Nova Délhi - Foto AFP

Mectron Inicia negociações com Odebrecht

Sempre considerada uma das principais empresas de tecnologia do setor de defesa do Brasil a Mectron anuncia finalmente a abertura de negociações com uma empresa do setor.




Muitas empresas internacionais procuraram uma associação com a empresa de são José dos Campos (SP), mas sem sucesso. Entre estas estavam as seguintes empresas: Rafael e Elbit (ambas de Israel)e MBDA, (consórcio Europeu). Também é uma presença constante nos programas de contrapartidas comerciais (off sets) dentro dos programas F-X1 e F-X2 e também participa do programa PROSUB.



Esta participação no programa de submarinos permitiu a aproximação com a empresa Odebrecht. Estão sendo realizados no momento ações de “Due Dilligence” para avaliação de seu patrimônio para uma futura composição entre as duas empresas.



A Odebrecht avança assim na área de defesa a passos largos. Após a participação no programa PROSUB com a francesa DCNS e a formação de uma sociedade com a européia CASSIDIAN (ex- EADS DS) a futura aquisição da MECTRON consolida a sua posição na área d defesa brasileira e internacional.



Os principais programas da MECTRON são:



- MAA1 Piranha Míssil ar-ar de curto alcance;

- MAA A-Darter em associação com a sul-africana Denel desenvolve o míssil ar-ar de guia infravermelha de quinta geração, para a Força Aérea Brasileira e a Força Aérea da África do Sul;

- MAR – Míssil anti-radiação, em desenvolvimento e já adquirido pelo Paquistão e possivelmente a FAB;

-Diversos outros projetos como radares e sistemas embarcados para Forças Aéreas e aplicações civis.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Indústria Defesa Invasões bárbaras

Carlos Frederico Queiroz de Aguiar


presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança ABIMDE

Nota DefesaNet - No dia 11 de Janeiro Assumiu a presid~encia da ABIMDe o Sr Orlando Neto da Embraer O autor permanece como VP da ABIMDE.





OBrasil virou uma espécie de Eldorado mundial. O bom momento econômico que vive o país e os bilionários investimentos públicos a serem realizados até 2030 despertam um apetite sem precedentes, e daí o título deste artigo, emprestado do filme canadense candidato à Palma de Ouro de 2003. Estamos no olho do furacão. E a indústria nacional que se segure: sem regras definidas, virá uma invasão bárbara por aí.



Só na área de infraestrutura, estima-se que investimentos públicos que precisarão ser feitos para dar cabo à agenda de eventos esportivos globais previstos até 2016 cheguem a US$26 bilhões. Some-se o setor de energia, onde só a Petrobras anuncia investimentos até 2014 de US$224 bilhões na exploração do pré-sal - felizmente, neste caso, com 80% dos recursos reservados para conteúdos industriais nacionais.



No segmento da Defesa e Segurança, há esforços para o reequipamento das Forças Armadas. Pela Estratégia Nacional de Defesa, serão investidos US$247 bilhões, até 2030, na modernização dos equipamentos da Marinha (US$70 bilhões), Exército (US$94 bilhões) e Aeronáutica (US$83 bilhões). Não é, portanto, exagero estimar-se que haverá oportunidades que chegam a US$700 bilhões. Onde mais se anuncia Eldorado semelhante?



Sou testemunha da invasão que estamos sendo alvo de empresas de todo o mundo. A Fiesp, a Firjan e a Abimde receberam ao longo deste ano delegações empresariais de países como EUA, Canadá, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Israel, oferecendo suas expertises. Se não houver cautela, a indústria nacional correrá imensos riscos.



No segmento industrial de Defesa, adianto ameaça adicional: a da desnacionalização. Afinal, como enfrentaríamos uma eventual invasão de nosso território, da Amazônia, do pré-sal, se a tecnologia empregada pelas nossas tropas não pertencesse a nós, mas aos nossos inimigos? As consequências já são evidentes em território nacional: aumento das importações, diminuição das exportações pela queda da competitividade em preço do produto nacional e desindustrialização.



A invasão bárbara que temos presenciado é como script de um filme conhecido, que começa com empresas internacionais se associando a brasileiras e, depois, assumindo o controle acionário. Segue-se, então, o epílogo dramático: após sorverem o que podem, elas se retiram do País com o qual jamais tiveram compromisso. Nossa Constituição não limita o capital estrangeiro no segmento da Defesa, apesar do seu caráter estratégico. Desde que o estabelecimento das empresas siga as normas legais, tudo certo. Mas pergunto: tudo certo para quem?

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Adiamento leva a risco de armas sucateadas nas Forças Armadas

ANÁLISE




Forças Armadas bem equipadas e eficazes não são algo que se improvisa. O reequipamento tem de ser constante, pois a tecnologia avança.



O caso é especialmente dramático para marinhas e Forças aéreas, que dependem muito de tecnologia eletrônica e de computação.



O adiamento de programas como a compra de caças e de novas escoltas de superfície está levando a Marinha e a FAB a uma perigosa obsolescência em bloco.



Um navio de guerra, em tese, costuma operar por 30 anos, recebendo modernizações constantes, e, na sua meia-vida, aos 15 anos, é praxe uma reforma de maior porte, substituindo sensores e armamentos obsoletos.



Mas há limites no prolongamento da vida útil de um navio ou de um avião.



A Marinha fez um bom trabalho de modernização nas fragatas da classe. Substituiu mísseis e trocou os canhões manuais por automáticos.



Os navios ficaram "novos", mas foram também incorporados nos anos 70.



Não existe meio-termo quando se trata de ter Forças eficazes. O "desmanche" das Forças iraquianas nas guerra de 1991 e 2003 face a inimigos mais bem equipados e treinados deixou claro que a qualidade é fundamental no combate moderno.



Quando um navio de guerra é atingido, seu comandante tem três prioridades na hora de controlar o dano: flutuar, navegar e combater.



Do jeito que estão os recursos, os militares vão continuar flutuando, mas navegando pouco e com condições nada boas se for preciso combate.



Fonte: Folha de S.Paulo -RICARDO BONALUME NETO



Alide entrevista o Almirante Othon: a mente por trás do programa do submarino nuclear brasileiro

Dentro da Marinha, do Ministério da Defesa e principalmente no Congresso, o “Prosub”, programa de construção dos novos submarinos da Marinha do Brasil, foi aprovado em tempo recorde, especialmente se levarmos em conta que é um contrato de defesa e orçado em quase 6,7 bilhões de Euros, um contrato de valor nada desprezível. O segredo dessa proeza certamente reside não nas quatro unidades de submarino diesel-elétrico da classe S-BR (um Scorpène modificado), mas sim da perspectiva dos franceses da DCNS nos auxiliarem no desenho e desenvolvimento/construção de um novo casco de 6000 toneladas para acomodar o sistema de propulsão so submarino de propulsão nuclear (hoje conhecido como SN-BR) que se encontra em desenvolvimento pela Marinha e pela USP há vários anos.




Muito tem se comentado sobre as várias idas e vindas do programa nuclear brasileiro e particularmente do Programa Nuclear da Marinha, mas muitas lacunas nesta história persistem. Lacunas que são do interesse do aficionado dos temas de defesa, mas que, certamente, pouco interessaria a um leitor leigo casual. Como nossos leitores não são deste tipo, ALIDE tratou de entrevistar o Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, um dos personagens mais centrais, e controversos, desta grande aventura nuclear do Brasil.



Othon se graduou como oficial da Escola Naval no ano de 1960, vindo a trabalhar no Arsenal de Marinha entre 1967 a 1974 em diversas funções incluindo a coordenação da construção dos Navios de Patrulha da Amazônia da Classe Pedro Teixeira, das Fragatas Classe Niterói, das EDVP - Embarcações de Desembarque de Veículos e Tropa e EDCG - Embarcações de Veículos e Carga Geral. Ele também se envolveu na troca do sistema de propulsão dos navios hidrográficos da Classe Taurus, tendo atuado como chefe da Divisão de Metalurgia, Divisão de Oficinas Mecânicas e Eletricidade, Divisão de Obras Novas e Departamento de Construção Naval.







Ocupando atualmente o cargo de presidente da estatal Eletronuclear, Othon controla a empresa que reúne em si toda a construção e operação das usinas nucleares do Brasil (Angra I e II e em breve, Angra III), além de todo o ciclo industrial de produção de combustível nuclear do Brasil. A Eletro nuclear ainda é responsável pela Nuclep - Nuclebras Equipamentos Pesados - uma empresa fabricante de grandes componentes metálicos, criada para apoiar a montagem das nossas usinas nucleares e posteriormente também usada para fabricar os anéis do casco dos submarinos da Classe Tupi e Tikuna fabricados no Brasil.



No seu escritório na Rua da Candelária, no Centro do Rio de Janeiro, curiosamente localizado a pouco menos de 200 metros da entrada do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro onde ele começou sua carreira, o Almirante Othon, ou melhor “Dr. Othon”, como é mais conhecido hoje em dia, nos ajudou a montar este quebra cabeça histórico. Em meados da década de 70, como Capitão de Corveta, quando ocupava a função de Chefe da Divisão de Obras Novas do programa das fragatas da classe Niterói. Justo neste ano, ele foi obrigado a abrir mão de cursar um curso na Naval Postgraduate School, na cidade de Monterey na Califórnia, por ser “imprescindível” na sua função. No ano seguinte, o Almirante Januzzi, então Diretor do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, lhe ofereceu a possibilidade de ser mandado para o Reino Unido para se juntar à Comissão de Recebimento das Fragatas que se encontravam ainda em construção por lá. No entanto, por ter sido solicitado a fazer uma apresentação para uma visita ao AMRJ do vice-presidente da república do Governo Geisel, General Adalberto, Othon, ao procurar transmitir uma visão mais “operacional”, acabou esbarrando num fato “delicado” para a ortodoxia do pensamento naval brasileiro... Já naquela época, os navios de superfície que até a década anterior encarnaram a “dissuasão” no mar pouco podiam contra os novos submarinos de propulsão nuclear. Segundo ele, os próprios chineses naquele momento já haviam identificado esta situação e, sendo assim, priorizaram a recomposição da arma submarina sobre a de superfície. Se a “primeira arma” da Marinha era claramente o submarino, porque nós não seguíamos no Brasil, esta idéia? A maioria dos nossos oficiais que ia estudar nos EUA o faziam através de um convênio que o Brasil mantinha com as forças armadas norte-americanas. Neste caso, não havia qualquer ônus para os brasileiros, mas, em contrapartida, os nossos estudantes eram obrigados a fazer relatórios regulares sobre seu progresso acadêmico para o controle dos americanos.



Quando chegou sua vez, o CC Othon acabou optando, ao invés de seguir suas atividades na Comissão de Fragatas no Reino Unido, por estudar no Massachussets Institute of Tecnology (MIT), um dos mais conceituados centros de pesquisa avançada dos EUA e inusitadamente. Lá ele cursou o mestrado em Engenharia Mecânica e a graduação em Engenharia Nuclear (Master in Science in Mechanical Engineering e Nuclear Engineer Degree) de 1975 a 1978, e não apenas a Engenharia Naval como era mais comum entre seus pares. No dia a dia ele não andava fardado na universidade, mas, de forma alguma ocultava de seus professores e colegas que era oficial da MB da ativa. Além dele, outros três oficiais engenheiros brasileiros cursavam a pós-graduação em Engenharia Naval naquela Universidade. Dentro do MIT existia um escritório da US Navy cuja função era acompanhar o progresso acadêmico dos diversos alunos militares estrangeiros e receber seus relatórios. Este curso, correria sem qualquer centavo de verba do governo americano, tudo seria pago pela própria Marinha. Esta decisão foi tomada para dar maior liberdade e privacidade a ele que desta maneira não estaria suscetível a ter que preparar os tais “relatórios de progresso”. Curiosamente, um ano após sua chegada nos EUA ele recebeu uma carta deste escritório cobrando o seu “relatório”, carta esta (e outras duas posteriores) devidamente ignorada por ele por seu curso não estar sendo pago pelo Military Assistance Program (MAP) americano.



“Neste curso nos EUA ficou claro para mim que não haveria submarino, nem programa nuclear brasileiro, sem que nós brasileiros dominássemos por completo o processo de enriquecimento do Urânio no país. Simplesmente colocando, ninguém nos venderia o combustível para mover o nosso submarino. Focando neste fato, já no meu retorno em 1978 sugeri, como primeiro passo, que iniciássemos um programa para viabilizar a criação de uma ultracentrífuga de desenho nacional. Para montar a equipe a Marinha se associou à Universidade de São Paulo para criar um laboratório dedicado exclusivamente a esta atividade nuclear. A época de ouro deste programa foi certamente no início da década de 80 onde pudemos escolher os melhores talentos disponíveis na USP e na Marinha, unindo a elite dos pesquisadores e orientadores num grande projeto”, disse com um sorriso o Almirante Othon.



Este programa foi aprovado em 8 de março de 1979 e, poucos meses depois, em 4 de setembro de 1982 apresentou seus primeiros resultados encorajadores. “Pode parecer pouco, mas sair dos 0,7% de urânio U235 da natureza para 1,1%, já colocava o Brasil, definitivamente, entre as nações com know how de enriquecimento do urânio. A ciência nuclear não é naturalmente uma atividade barata, mas este primeiro passo brasileiro custou surpreendentemente pouco: apenas US$7 milhões”, disse Othon. Muitos almirantes da engenharia da MB não acreditaram que seria possível este desenvolvimento sem o apoio direto e intensivo de países detentores desta tecnologia. Um memorando interno escrito por um importante almirante explicitamente desencorajava que se seguisse nesta direção, classificando a proposta do Comandante Othon de “uma experiência de caráter duvidoso”. Mesmo assim, a despeito da oposição nada velada, o próprio Ministro da Marinha Almirante Maximiano da Fonseca, optou por bancar a aposta naquele grupo de “loucos”. Além do ciclo de enriquecimento, a equipe do Cte Othon deveria projetar em São Paulo o reator que seria alimentado por aquele mesmo combustível.



Desenvolvido em paralelo, o projeto do submarino nuclear em si, ao menos teoricamente permaneceria aos cuidados da Diretoria de Engenharia Naval no AMRJ. O projeto teria que ser criado do zero para poder receber o reator e o sistema de propulsão criados em São Paulo. Esta separação não era prática o que fez que entre 90 e 91 todo projeto de desenvolvimento do casco fosse transferido para São Paulo, culminando com um total de 163 engenheiros passando a trabalhar no novo Centro de Projeto de Submarinos que foi criado em 1993. O novo Ministro da Marinha, Almirante Serpa, era muito menos entusiasta do programa do submarino nuclear do que seu predecessor e literalmente sentou em cima do pedido de verbas para a criação do prédio do Centro de Projeto de Submarinos por quatro meses apenas para descobrir que usando fundos do Governo do Estado de São Paulo (a USP é uma entidade do governo estadual) Othon já tinha construído e inaugurado ele, antes mesmo de receber a autorização formal da Marinha para iniciar as obras.



Enquanto o programa do sub nuclear andava em São Paulo, a Marinha se debruçava na escolha de um novo modelo de submarino convencional moderno que substituísse os três Oberon e os últimos Guppy III da nossa Força de Submarinos. A disputa estava dividida entre o modelo alemão U209-1400 e o modelo francês Agosta, o AMRJ tendia para o francês porque suas calandras (maquinas de dobrar chapas de aço) eram mais adequadas para os anéis menores do casco duplo do Agosta. Nesta época, numa visita de cortesia à Nuclep para que a MB conhecesse a “oficina mecânica para peças metálicas de alta precisão” na comitiva do Ministro Maximiano. Nesta ocasião, ao ser questionado sobrte suas impressões, Othon acabou comentando que com os equipamentos que a Nuclep tinha ela poderia viabilizar a produção no país dos anéis maiores do casco simples do U209. Nesta mesma época os alemães acenaram para a MB a possibilidade de fabricarem aqui seu projeto maior, o IKL 2000, de 2 mil toneladas de deslocamento. Este casco poderia, na visão dos alemães, ser usado para fazer o submarino nuclear tão sonhado pelo Brasil, mas segundo Othon, ”o IKL 2000 não passava de um fake, um conceito, sem qualquer perspectiva real de entrar em produção”.



No Centro de Projeto de Submarinos em São Paulo dois conceitos surgiram, o SNAC-1 (“Submarino Nacional 1 “... ) e o SNAC-2. Segundo o Almirante Othon: “com o SNAC-1, a MB não objetivava ter um submarino nuclear de ataque no estado da arte, ele seria essencialmente uma etapa intermediária para se chegar ao SNAC-2, o nosso modelo definitivo. “Outra característica peculiar do SNAC é que a variante nuclear seria obtida com a remoção do módulo de propulsão convencional e sua simples substituição por um módulo novo de propulsão nuclear.”Continuou Othon, “num submarino a propulsão, na média, ocupa cerca de metade do espaço disponível no seu interior. Os estudos do SNAC em SP se encerraram em 1994, com a responsabilidade pelo desenho do novo casco retornando para a DEN, no Arsenal de Marinha, no ano seguinte. O projeto em desenvolvimento hoje, com auxilio francês, naturalmente, seguirá adiante a partir do conhecimento acumulado nesta nossa fase anterior. Uma preocupação do time de design do SNAC era que a baixas velocidades não fosse obrigatório o emprego de barulhentas bombas hidráulicas para manter a refrigeração do sistema”.



“Para isso, o projeto fazia uso de ‘circulação natural’ em que as características térmicas e de pressão do circuito termo-hidráulico, automaticamente, puxariam a água do mar para seu interior em total silêncio”. No cento de Projeto de Submarinos de São Paulo as mesas dos projetistas ficavam em salas localizadas ao redor de um hall central onde existia uma maquete em grande escala feita de acrílico transparente que os permitia ver, em 3-D, e determinar a distribuição mais eficiente dos componentes internos a serem instalados no novo submarino. Esta maquete foi construída entre 1992 e 1993.



Naquela época, o Labgene (Laboratório de Geração Nucleo-Elétrica), o reator protótipo construído em terra, era ainda conhecido como RENAP (Reator Naval Potência). Um exemplo do poder estrangeiro de interferir no programa nuclear brasileiro ocorreu no caso do motor elétrico da propulsão. Othon relembrou que “depois de muita negociação as empresas alemãs Thyssen Siemens anunciaram que não mais desejavam construir no Brasil o motor completo. A legislação alemã mudou, o governo daquele país cedendo à pressão americana pela ‘não proliferação’ de tecnologias críticas. Foi neste ponto que a Marinha concluiu que a Alemanha poderia não ser uma ‘fonte tão confiável’ para o programa do nosso submarino nuclear. Na exata mesma época, os alemães também embargaram motores para os veículos lançadores Astros da Avibras”. Sem o motor alemão coube aos engenheiros brasileiros a tarefa de desenvolver dentro da COPESP nosso próprio motor de submarino de 100MW com tecnologia de ponta como a de pólos permanentes e comutação eletrônica. Este tecnologia é ainda usada em alguns modelos de trens de alta velocidade TGV ao redor do mundo.



Para Othon: “está provado que não existe melhor ferramenta para inibir a concentração de força do inimigo no mar do que o submarino de ataque de propulsão nuclear”. Ele continuou, “cada um dos nossos submarinos precisará de pelo menos duas tripulações completas, três até, se houver como. Mas, mesmo se somarmos todo este pessoal, cada um deles ainda precisará de menos tripulantes do que um destróier normal”.



Ao abrirmos por aqui o tema do nascimento do programa nuclear brasileiro, ALIDE espera que este programa, com seus evidentes benefícios tanto civis como militares, possa ser melhor estudado e compreendido pela população Brasileira, servindo de exemplo para outros desenvolvimentos semelhantes de grande porte na área de Ciência e Tecnologia. Esperamos que esse programa pavimente o caminho para uma crescente integração da Academia brasileira com os segmentos industriais e militares. Em breve seguiremos esta história com diversas outras entrevistas relevantes, até lá, não deixe de ler sobre a recente palestra do Almirante Fragelli, atual responsável pelo programa de construção dos submarinos brasileiros junto com os franceses.


Fonte: ALIDE