sábado, 12 de abril de 2014

ARMADA ESPANHOLA AVANÇA EM ÁREA DO INTERESSE DO BRASIL NA ÁFRICA

Roberto Lopes
Jornalista especializado em assuntos militares.
Em 2000 graduou-se em Gestão e Planejamento de Defesa
no Colégio de Estudos de Defesa Hemisférica
da Universidade de Defesa Nacional dos Estados Unidos, em Washington.
Autor de vários livros, em 2001 lançou, em Washington, a monografia
“Oportunidades para Civis na Condução dos Assuntos
da Defesa Nacional: o Caso do Brasil”.

A visita de uma fragata classe Descubierta, de 1.600 toneladas, ao importante porto angolano de Lobito, na província de Benguela, nesta primeira quinzena de abril, marca mais uma etapa do processo de estreitamento de relações que a Armada da Espanha empreende junto às nações africanas em geral – e às do litoral do Atlântico em particular.

A missão do barco “P-76 Infanta Elena” – de 101 tripulantes, dotado de mísseis anti-navio –, obedece a um planejamento amplo de Madri batizado de “Plano de Diplomacia para a Defesa”, de usar as Forças Armadas para consolidar laços internacionais – e a uma iniciativa específica para o chamado continente negro, denominada “Base de Parceria com a África”. A P-76 transporta 15 fuzileiros navais do destacamento das Ilhas Canárias, que farão demonstrações de sua técnica para militares de diferentes países africanos.

Justificativas para a ofensiva político-militar espanhola na África não faltam. As rotas marítimas da costa ocidental servem ao transporte de, ao menos, 10% de todo o petróleo, e de 25% do gás que a Espanha importa do lado oeste do continente – a maior parte desses produtos comprados à Nigéria. E os piratas marítimos estão agressivos. Em 2012 eles invadiram o navio-tanque “Mattheos I”, defronte ao litoral do Togo, e levaram de uma só vez 7.500 toneladas de gasoil (óleo combustível).

Mas na África o governo ibérico também persegue três objetivos que nada têm a ver com a segurança do seu comércio:
1 - habilitar-se como provedor de treinamento às forças navais locais;
2 - vender a essas marinhas os navios que está retirando da ativa; e,
3 - oferecer a elas barcos novos, projetados e fabricados pelo estaleiro Navantia, bem como aeronaves de treinamento e de patrulhamento costeiro.

 
O empenho dos espanhóis colide frontalmente com os interesses do governo brasileiro que, por meio da Marinha, também se candidata a servir como centro de treinamento para os militares africanos e fornecedor de embarcações militares.

No métier específico da exportação de unidades navais, o Brasil leva flagrante desvantagem diante dos espanhóis, já que sua indústria naval é menor e menos sofisticada que a do concorrente europeu. Os brasileiros oferecem um leque menor de produtos (navios) e têm mais dificuldade em alavancar o suporte financeiro requerido pelas encomendas dos clientes. Recentemente o governo nigeriano justificou o fato de ter comprado dois navios-patrulha oceânicos à indústria da China, argumentando que os chineses foram os que propuseram os menores preços e os menores prazos de entrega dos barcos.

Em compensação, o Ministério da Defesa do Brasil atende as autoridades das Forças Armadas da África com muito mais atenção e disponibilidade para receber estudantes africanos em suas escolas militares.

Desde o fim da década de 2000 navios de patrulha espanhóis fazem visitas regulares a portos da África ocidental. E isso a Marinha do Brasil também vem fazendo, aliás, desde a década de 1990. O problema é que, na metade final dos anos de 1990, diante da grave indisponibilidade de meios da esquadra, os almirantes brasileiros precisaram cancelar, temporariamente, as visitas que as corvetas classe Imperial Marinheiro faziam ao saliente noroeste da África, porque essas unidades precisavam ficar à disposição dos distritos navais para atender a eventualidade de um salvamento em alto mar.

Em 2011 e 2012 a Espanha doou duas lanchas de vigilância costeira às Armadas de Moçambique e do Senegal. O Brasil fez o mesmo com a Namíbia, em 2004. Construída na Holanda, na década de 1950, a corveta “Purus” serviu na força naval namibiana durante oito anos.

Em 2013 um site noticioso europeu chegou a anunciar que a Marinha de Angola ficaria com toda uma frota que os espanhóis haviam transferido para a reserva:o porta-aviões “Príncipe de Asturias”, e os navios de patrulha “P-61 Chilreu”, de 2.100 toneladas,e “P-27 Ízaro”, de 320 toneladas, além da antiga fragata “F-32 Diana”, da mesma classe da “Infanta Elena”, que foi adaptada para a guerra de minas. No mesmo lote estaria o navio de desembarque de carros de combate “L-42 Pizarro” – um veterano de quase 5.000 toneladas (na Marinha americana “USS Harlan County”), virtualmente inútil a uma força naval que não dispõe de tanques de guerra. Parte do pagamento dessas embarcações seria feito com petróleo.

A transação nunca se concretizou, mas os entendimentos entre as duas Marinhas também não pararam. Ao contrário.

Para defender o seu litoral de 1.600 quilômetros, a força naval de Angola dispõe de uma flotilha de lanchas porta-mísseis antiquadas, fabricadas na antiga União Soviética, além de barcos torpedeiros e de vigilância costeira, cujo estado de conservação é considerado duvidoso. Os almirantes angolanos estimam que, a longo prazo, precisariam de ao menos sete embarcações  capacitadas ao patrulhamento oceânico.

A pesar dos esforços da Marinha do Brasil, os almirantes angolanos têm dado mostras de que preferem estreitar seu relacionamento com a Armada espanhola, e fontes militares brasileiras admitem que eles façam uma oferta para ficar com a própria Corveta“Infanta Elena”, lançada em 1980, 1500t deslocamento, no momento em que ela for retirada da esquadra espanhola, o que deve acontecer ainda este ano.
Nota DefesaNet - Em dezembro 2013 circulou como rastilho de pólvora que Angola compraria o navio capitânea da Armada Espanhola, o porta-aviões R-11 Príncipe de Asturias, prestes a ser descomisionado após 25 anos de serviço. Incluia no pacote mais 2 Navios Patrulha, uma Fragata e um navio de apoio. As compras não se confirmaram.
SEGURANÇA NACIONAL BLOG,SNB

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