quarta-feira, 1 de maio de 2013

O mundo sem os Estados Unidos


RICHARD, HASS, PROJECT SYNDICATE, É PRESIDENTE DO CONSELHO DE , RELAÇÕES EXTERIORES DOS EUA, RICHARD, HASS, PROJECT SYNDICATE, É PRESIDENTE DO CONSELHO DE , RELAÇÕES EXTERIORES DOS EUA - O Estado de S.Paulo
Gostaria de propor uma ideia radical: a ameaça mais crucial com que os EUA se defrontam agora, e se defrontarão no futuro previsível, não é a ascensão da China, a temeridade da Coreia do Norte, o Irã nuclear, o terrorismo moderno ou a mudança climática. Embora todas elas sejam ameaças em potencial ou mesmo concretas, os maiores problemas dos EUA, neste momento, são o aumento de sua dívida, sua infraestrutura em ruína, um ensino básico e secundário de segunda classe, um sistema de imigração ultrapassado e um lento crescimento econômico - em suma, o próprio alicerce do poder americano.
Talvez os leitores de outros países se sintam tentados a reagir a essa conclusão com certa satisfação pelas dificuldades dos EUA - e tal atitude não deve surpreender. Os EUA e os seus representantes têm sido culpados de arrogância (é possível que, muitas vezes, os EUA sejam uma nação indispensável, mas seria melhor que outras nações destacassem isso). Os exemplos de incoerência entre os atos e os princípios em que se baseiam os EUA fazem com que, compreensivelmente, eles sejam acusado de hipocrisia. Quando os EUA não respeitam os princípios que apregoam, causam descontentamento.
Seria preciso resistir ao impulso, entretanto, de comprazer-se com as imperfeições e os conflitos dos EUA. As pessoas de todo o planeta deveriam ser prudentes com o que desejam. O fato de os EUA não resolverem seus problemas internos tem um custo muito elevado. Na realidade, o interesse do restante do mundo no sucesso americano é quase tão grande quanto o do próprio EUA.
Em parte, o motivo disso é econômico. A economia americana ainda representa cerca de 25% da produção global. Se o crescimento americano acelerar, a capacidade do país de consumir os bens e serviços de outros países aumentará, acelerando a expansão econômica mundial. Neste momento em que a Europa se encontra à deriva e a Ásia freia seu crescimento, somente os EUA (ou, em termos mais amplos, a América do Norte) têm o potencial para liderar a recuperação econômica global.
O país continua sendo uma fonte muito rica de inovação. A maior parte da população mundial se comunica por meio de aparelhos móveis com tecnologia do Vale do Silício. A internet foi criada nos EUA. Mais recentemente, novas tecnologias desenvolvidas nos EUA aumentaram consideravelmente a capacidade de extrair petróleo e gás natural de formações subterrâneas. Hoje, essa tecnologia permite que outras sociedades aumentem sua produção de energia e reduzam sua dependência de dispendiosas importações e as emissões de carbono. Os EUA são também um criadouro de ideias inovadoras. Suas universidades educam um número significativo de futuros líderes mundiais.
O mundo enfrenta graves desafios. É necessário coibir a proliferação das armas de destruição em massa, combater a mudança climática e manter uma ordem política mundial que funcione para promover o comércio e os investimentos. Também é preciso regular as práticas no espaço cibernético, aprimorar a saúde global e prevenir os conflitos armados. Esses problemas não encontrarão em si uma solução.
Talvez a "mão invisível" de Adam Smith garanta o sucesso do livre mercado, mas ela é impotente no mundo da geopolítica. Para que haja ordem, é imprescindível que a mão visível da liderança formule e ponha em prática as respostas globais aos desafios globais.
Nada do que acabo de afirmar tem o propósito de sugerir que os EUA possam solucionar eficazmente os problemas do mundo. O unilateralismo raramente funciona. Não que os EUA não disponham dos meios para tanto. É a própria natureza dos problemas contemporâneos globais que sugere que somente as respostas coletivas têm chance de sucesso.
No entanto, é muito mais fácil defender o multilateralismo do que planejá-lo e pô-lo em prática. Neste momento, só existe um candidato a esse papel: os EUA. Com isso, volto ao argumento inicial da necessidade de os EUA porem ordem na sua casa - tanto em termos econômicos e físicos quanto sociais e políticos - se quiserem ter os recursos para promover a ordem no mundo.
Essa deveria ser a esperança de todos, porque a alternativa a um mundo liderado pelos EUA não é um mundo liderado por China, Europa, Rússia, Japão, Índia ou por qualquer outro país, mas um mundo sem líderes. E, quase certamente, esse mundo se caracterizaria por crises e conflitos crônicos. O que seria ruim não apenas para os americanos, mas também para a maioria dos habitantes do planeta. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
SNB

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