domingo, 7 de novembro de 2010

SPICE (Smart, Precise Impactant Cost-Effective Guidance

A empresa israelense Rafael Armament Development está comercializando uma nova arma guiada lançada de aeronaves. Descrita como uma Popeye simplificada, ou uma JDAM melhorada, a SPICE (Smart, Precise Impactant Cost-Effective Guidance Kit) usa dois kits de guiamento para converter bombas burras em armas de precisão de longo alcance.




Os requerimentos de Israel para uma nova classe de armas ar-superfície de longo alcance apareceram após a Guerra do Yom Kippur em 1973. Os israelenses foram um dos primeiros países a reconhecer a necessidade de atacar alvos indiretamente e a longa distância com a adoção de armas de longo alcance.



A primeira resposta foi o programa Popeye. O míssil mostrou ser eficiente, mas de alto custo. No fim da década de 80 a Rafael passou a estudar meios para conseguir precisão e desempenho semelhante a Popeye com um custo menor.



Em 1987-1988 a empresa apresentou o conceito da Pyramid que usava o mesmo sistema de guiamento da Popeye instalado em uma bomba planadora semelhante ao conceito da Walleye. A Guerra do Golfo de 1991 gerou um novo impulso no desenvolvimento da SPICE de baixo custo.



A Spice é um míssil de longo alcance, com guiamento de meio curso por INS e GPS e cabeça de busca terminal eletro-ótica (TV ou IIR) que pode transmitir imagens do alvo para a aeronave lançadora ou outra aeronave equipada com o casulo de datalink.



A JDAM é um kit produzido pela Boeing para transformar bombas burras em armas guiadas por GPS/INS. A Spice também usa este sistema de guiamento no trajeto de meio curso até o alvo. A SPICE está classificada como arma de longo alcance, da mesma classe da Storm Shadow ou JASSM, mas com um custo muito inferior, e uma classe acima das munições guiadas de precisão como a JDAM.



Porém, ao contrário da JDAM, a Spice não usará apenas a guiamento por satélite para atingir as coordenadas do alvo. A Rafael adicionou uma cabeça de busca eletro-ótica para guiar a arma na fase terminal.



Enquanto a JDAM tem um alcance máximo quando lançado a grande altitude limitado a menos de 25km, a Spice pode ser lançada a mais de 60km do alvo quando disparada a 14 mil metros de altura. O alcance varia de acordo com a altitude de lançamento e velocidade da aeronave podendo ser lançada de grandes e baixas altitudes.



O alcance permite que seja lançada além das defesas inimigas, incluindo mísseis de defesa aérea de área. A Spice também pode ser usada contra navios. Seu sistema de guiamento passivo limita a capacidade de detecção pelo inimigo ser dar alertas aos sistemas de apoio de guerra eletrônica como faria um míssil guiado por radar.

A cabeça de busca usada pela Spice tem grande ângulo de visada, permitindo que o piloto adquira o alvo facilmente, e pode realizar avaliação de danos de ataque, quando recebe as imagens pelo datalink. A cabeça de busca é adaptável podendo ser do tipo TV CCD ou imagem infravermelha (IIR). É o mesmo sensor usado nos mísseis anti-carro guiados por fibra ótica Spike-ER.




A aquisição de alvos é simples: piloto voa até uma área pré-determinada onde seleciona um alvo específico a partir de uma lista na memória da Spice junto com a rota de navegação e imagem do alvo. Após o disparo, a arma plana pela trilha de vôo planejada, usando o GPS/INS, até um ponto predeterminado onde os sensores EO tomam controle usando o INS/GPS combinado com imagem do sensor ou comparação de terreno. O sensor pode procurar o alvo automaticamente em uma grande área. Depois de localizado o alvo, a arma é alinhada com o alvo.



No alcance visual, o sensor identifica o alvo comparando com a imagem do alvo já armazenada na memória. Com a aproximação do alvo a identificação fica mais fácil e é possível escolher o ponto de impacto automaticamente. Isto permite diminuir o CEP, erros de localização, identificação e interferência do GPS. O ângulo de impacto também pode ser escolhido antes do disparo. Num ataque em mergulho a velocidade chega a Mach 0,9, ideal para penetrar em alvos bem protegidos.



A Rafael oferece um datalink opcional para avaliação de danos de batalha e controle manual. O datalink transmite imagens para a tela na cabine do piloto que determina o melhor ponto do alvo onde a arma irá atingir. O operador pode selecionar o ponto de impacto mais vulnerável, como o centro de informações de combate de um navio, para maximizar os danos. O datalink pode ser instalado no casulo Litening.



O uso de guiamento terminal eletro-ótica com transmissão das imagens para o operador permite que a arma seja mais flexível. O conceito "man-on-the-loop" permite o reconhecimento durante o trajeto e até engajar alvos de oportunidade.



A SPICE foi otimizada para lançamento a grande altitude. Não usa lançamento para cima (loft) e por isto não é boa para disparo a baixa altitude. A tática usual é penetrar a baixa altitude e subir para disparar. Com o datalink é possível disparar e fugir imediatamente com outra aeronave podendo controlar a arma a até 100km de distância.



A cabeça de busca tem campo de visão largou ou estreito com zoom. O campo de visão largo é usado para adquirir o alvo, o zoom estreito é usado na fase terminal para escolher o ponto de impacto (janela, pilastra, vão de ponte, COC de navio). O sensor é ligado quando está próximo ao alvo, geralmente a menos de 1 minuto do impacto e já apontado para o alvo.



Uma limitação do sistema é que a bomba e a aeronave lançadora ou equipada com o datalink tem que estar na linha de visada para pode manter o controle do míssil. Esta fase pode ser restrita a fase final quando o sensor é ligado e está transmitindo. O guiamento de meio curso é feita de modo automático. O guiamento semi-automática ou manual é opcional quando equipado com datalink. As JDAM ou similares sem cabeça de busca terminal são dependentes de fenômenos conhecidos como erro de localização do alvo. As coordenadas do alvo podem variar dependendo da hora do ataque relativo a curvatura da terra. Apenas os EUA tem uma constelação de satélites para fornecer pontaria e minimizar o erro do GPS. Então a cabeça de busca para guiamento terminal é necessária para outros países que queiram compensar a menor precisão.




Na falta de mísseis anti-radiação para destruição das defesas aéreas inimigas, a opção é usar armas com alcance maior que as defesas inimigas para diminuir as perdas de aeronaves amigas. A Spice é um meio de aumentar a capacidade de sobrevivência contra alvos estratégicos bem defendidos.



A Spice seria usada primariamente contra alvos de alto valor bem defendidos como postos de comando e bunkers, centros de defesa aérea, radares de alerta antecipado, posições de mísseis SAM e instalações de infra-estruturais críticas. A arma é mais importante nas fases iniciais de uma campanha aérea ao atacar centros de Comando e Controle e Sistemas de Defesa Aérea Integrados (IADS). Após a destruição destes sistemas as defesas inimigas entrarão em colapso permitindo o uso de armas mais baratas com bombas burras lançadas manualmente ou com pontaria de radar.



O desenvolvimento da Spice iniciou no meio da década de 90. A Spice combina o conceito de kits de guiamento com as vantagens do Popeye e uma cabeça de guiamento pequena. O resultado é uma arma mais simples e completa que o Popeye e JDAM. A escolha do tipo de bomba significa poder adaptar o poder de destruição ao tipo de alvo. A SPICE já foi testada na Mk84 de 900kg e na Mk83 de 450kg. No Salão Aeroespacial de Le Bourget de 2003, a SPICE foi mostrada na bomba penetradora IMI PB-500.



O primeiro modelo a ser comercializado foi a Spice 2000 equipada com uma bomba Mk84 de 2000lb (900kg) e já operacional nos F-16 de Israel desde 2003 e em 2009 foi anunciado que será integrada nos F-35 israelenses. A Spice já foi usada nos conflitos no Líbano em 2006 em em Gaza em 2009. O novo membro da família é o Spice 1000, mostrado em 2005, e adaptado a uma bomba Mk83 de 1000lb (454kg). O alcance é bem maior que 60km por usar asa dobráveis no meio do corpo podendo chegar a 100km. A Spice 1000 poderá ser mais fácil de integrar em aeronaves de caça por ser mais leve.



A Popeye, conhecido nos EUA como AGM-142 Raptor, tem um custo de US$680-740 mil dependendo da quantidade adquirida. A Spice custaria de 30% a 20% deste valor (US$100-200 mil), dependendo da quantidade encomendada e sensores usados (TV, IIR e datalink), com 60% da capacidade. Os kits Spice são armazenados em um container reforçado sendo necessário apenas uma checagem a cada 5 anos.



Entre as concorrentes da Spice estão a Popeye e Popeye Lite, a PGM britânica, a AASM francesa, a AGM-130 americana e o Kh-59 russo, todos guiados por TV/IR. A Grécia comprou a Spike em 2007 para equipar suas aeronaves de ataque.



A Spice é uma opção para armas os caças A-1M e F-5EM da FAB e AF-1 da MB. Cada aeronave poderia ser equipada uma ou duas bombas, dependendo do alcance do alvo, enquanto um biposto levaria o casulo com o datalink para guiar as bombas. A SPICE poderia ser usada contra navios, alvos em terra de alto valor como radares, bunker e pontes e sempre mantendo o caça fora do envelope das defesas aéreas inimigas.

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