sábado, 12 de junho de 2010

Naqueles dias antes da partida, sempre surgiam novidades. O adido naval na África do Sul solicitou uma parada do navio por três dias na principal base naval do país, Simonstown, antes dele parar na vizinha Cape Town. Pedido seria atendido, mas para isso o plano da viagem seria novamente ajustado.




Finalmente, após longa preparação, no dia 21 de fevereiro, o navio deixou o Rio de Janeiro.



A cada novo porto caberia ao Chefe de Intendência a tarefa de adquirir os produtos necessários para a alimentação e o conforto dos tripulantes. Na área de alimentação eram adquiridos especialmente os itens perecíveis: verduras, legumes e frutas. Localmente cabia aos Adidos e a algum operador logístico local dar apoio ao navio nesta função.



O Garcia d’Ávila embarcou um helicóptero Esquilo do Esquadrão HU-1, com um Destacamento Aéreo Embarcado (DAE) composto por três pilotos e dez praças. O helicóptero Esquilo foi escolhido por duas razões: primeiro, porque não ocorreria nenhum exercício naval complexo nesta comissão, e, segundo, porque ele é bem mais simples e barato de se manter, durante aqueles cinco meses e meio da missão. Por todo o período da viagem o helicóptero brasileiro apenas voaria sobre águas internacionais além de não ter se programado qualquer exercício de “cross-deck”, o seu pouso em navios de outras marinhas. Estes vôos treinaram tanto os pilotos quanto o pessoal de convôo e de controle de operações aéreas no COC do navio. Uma única vez o helicóptero foi utilizado para exercitar o recolhimento de náufrago do mar.


Deixando o Atlântico para trás, o navio brasileiro cruzou o Cabo da Boa viagem navegando numa corrente favorável de 5/6 nós, num dia com clima perfeito, “céu azul e com uma temperatura ideal para se ir à praia, para sair de bermudas e de tênis”, exemplificou o Comandante Biasoli.




Após vários dias de mar o navio chegou ao Atol de Diego Garcia, perfazendo a primeira visita de um navio militar brasileiro por aqui na história. O Atol tem uma grande lagoa em seu interior onde ficam fundeados os navios da Força de Pre-posicionamento Marítimo (estratégico) dos EUA. Em seu interior estes navios levam armamento, peças de reposição e combustível que pode ser necessário caso alguma crise militar se conflagre em qualquer região localizada ao redor do Índico, Pacífico e do Oriente Médio. Estes estoques estratégicos dão às forças armadas americanas, a capacidade de intervir imediatamente sem que seja necessário realizar uma mobilização emergencial dos estoques localizados no continente americano. A escala do Garcia foi uma “parada técnica”, uma oportunidade para realizar algumas manutenções menores no navio, que não passou de dois dias. Um prático militar guiou o navio brasileiro até o interior da lagoa. Após fundear, o navio foi imediatamente cercado por uma barreira flutuante daquelas usadas para precaver contra possíveis vazamentos de óleo ou de outros contaminantes

Esta viagem serviu para demonstrar com grande clareza quantas coisas devem passar a ser prioritárias, tanto no aspecto logístico quanto no de recursos humanos para que a Marinha do Brasil possa atender às crescentes demandas que o projeto geopolítico atual da nação fará a ela. No campo do apoio às famílias a Esquadra já disponibilizou desta vez um núcleo de Assistência Social às famílias dos marinheiros embarcados no Garcia d’Ávila. Segundo Biasoli, “Houve um grande ganho no desenvolvimento dos nossos marinheiros e da mudança da sua percepção sobre o mundo e, especialmente, da inserção do Brasil nele. Desta vez não houve nenhum problema de saúde ou disciplibar com a tripulação, mas, talvez no futuro venha a ser útil, especialmente nessas missões de mais longa duração, incluirmos um posto que ainda não é previsto no navio: o de um assistente social, ou psicólogo. Este novo membro complementaria o trabalho realizado hoje em dia pelos nossos médico e dentista.”




No final, no dia 21 de julho o navio chegou de volta ao Rio de Janeiro, após ficar 153 dias fora do Brasil. Este período foi maior do que o inicialmente previsto, mas ao sair daqui no dia 21 de fevereiro ninguém imaginaria que eles fariam um desvio de curso até a Índia ou que período de reparo do motor em Cape Town os prenderia naquela cidade por um adicional de duas semanas. Tudo deu certo. Isso é claramente fruto da soma de dois importantes itens característicos da marinha do Brasil: um planejamento e manutenção pré-comissão bem executado, com o alto grau de preparo técnico da tripulação fez com que a missão, a despeito das diversas alterações inopinadas de rota, fosse um sucesso. Do ponto de vista diplomático o navio cumpriu seu papel servindo de poderoso catalizador para a aproximação continuada do Brasil com as marinhas e os governos dos países visitados. A relação entre a Marinha e o Ministério da Defesa com o Itamaratí também recebeu uma grande ênfase com a realização desta missão que se tudo caminhar normalmente passará a ser cada vez mais comum no futuro. A Índia e a China, colegas do Brasil no grupo dos BRICs, demonstraram, de forma muito evidente, a importância que ambos países atribuem ao crescente estreitamento das relações diplomáticas e militares com o Brasil. Finalmente, foi demonstrada a capacidade, pelo comando da Marinha do Brasil, de redirecionar um navio seu, sem aviso prévio, no alto mar, o enviando para uma nova e desafiadora missão. Esta pernada imprevista representou um grande desafio logístico e humano, um sinal inequívoco de que as “peças” estão todas no seu devido lugar, e que, com o orçamento adequado, a Marinha do Brasil pode se posicionar como uma das mais importantes marinhas de águas azuis a cruzar, regularmente, os mares do nosso planeta.

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